Título: Delúbio recebe em Goiás sem exercer função
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A5

Funcionário licenciado da Secretaria de Educação de Goiás, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, recebeu salário dos cofres públicos ao longo dos últimos 22 anos. Durante esse período, Delúbio, que é professor de matemática, esteve oficialmente à disposição do sindicato de sua categoria. Até o mês passado ele recebeu dos cofres públicos R$ 1.242,56 mensais brutos, ou R$ 1.020,28 líquidos. Pela tabela da secretaria, está enquadrado como professor nível P3, com vencimento fixo de R$ 763,88, reforçados por adicional por tempo de serviço.

Há mais de cinco anos, Delúbio é o responsável pelas finanças do PT. Antes, ocupou o cargo de secretário sindical do partido por meia década. Na entrevista que concedeu na quarta-feira, ele divulgou uma informação incorreta, ao declarar que recebia como professor aposentado, e não licenciado.

No momento, a situação de Delúbio é irregular. E, caso o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego) não renove o pedido para que continue à disposição da entidade, ele estará fora da folha de pagamento do mês de junho. A explicação para isso é que a Portaria 3.764, de 2001, que o dispensou de trabalhar como professor para servir ao Sintego, expirou em fevereiro e não foi renovada.

Em 19 de abril, Delúbio foi autuado e a secretaria entrou com representação por abandono de cargo. A burocracia, no entanto, não impediu que os salários de abril e maio fossem depositados. Agora, segundo a Secretaria de Educação, ele terá de devolver o dinheiro.

MENSALINHO

"Mesmo lidando com grandes cifras, Delúbio continua a receber um salário do governo Marconi Perillo", protestou o senador Demóstenes Torres (PFL), adversário local dos petistas. "Trata-se de um mensalinho." Já o presidente regional do PT, deputado Rubens Otoni, argumentou que "a lei prevê que o trabalhador fique à disposição do sindicato".

A presidente do Sintego, Noeme Diná, fez uma alusão ao caráter político do debate, ao lembrar que negociação envolve o governo estadual, do PSDB. A cada mês, Noeme cumpre rigorosamente a tarefa de enviar à secretaria uma lista com os nomes de professores que estão à disposição do sindicato. Entre eles, Delúbio.

"Não tem nada de ilegal nisso", disse a líder sindical. " Delúbio contribui com o nosso movimento e nunca se afastou da categoria, mesmo quando esteve fora de Goiânia."

O tesoureiro do PT foi procurado pelo Estado durante todo o dia de ontem, mas não respondeu aos telefonemas.