Título: Ex-presidente dos Correios sabia de esquema, diz Abin
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A7

O ex-presidente dos Correios João Henrique Souza sabia que na Diretoria Administrativa da estatal funcionava havia anos central de corrupção especializada em fraudar licitações, mas não tomou providências. Relatório detalhando o esquema foi entregue a Souza pela Agência Brasileira de Informações (Abin), em 15 de abril, logo após a gravação da fita em que um dos envolvidos, o então chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da empresa, Maurício Marinho, aparece embolsando propina de empresários. Integrante da cota do PMDB no atual governo, ministro dos Transportes no governo FHC, Souza é ligado ao ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira, e ao presidente do partido, deputado Michel Temer. Ele deverá ser intimado a prestar esclarecimentos sobre o fato e pode ser processado por prevaricação e improbidade administrativa. A assessoria da ECT informou que ele se encontrava-se em viagem e não conseguira localizá-lo.

Altos funcionários do governo informaram ao Estado que a Abin deu prazo de dez dias para que Souza adotasse as providências, entre as quais demitir Marinho e comunicar à Polícia Federal a ocorrência do crime. Passado o prazo, a agência continuou sem respostas, até que, no início de maio, a denúncia estourou em escândalo.

Informada de fraudes nos Correios, em esquema que se revelou supostamente montado pelo PTB para arrecadação de fundos, a Abin iniciou investigação em abril e infiltrou agentes entre empresários insatisfeitos por terem sido alijados em partilhas de licitações viciadas. Valeu-se da amizade de um dos agentes com o capitão José Fortuna Neves, cabeça de armação para flagrar Marinho recebendo propina.

Essa investigação, segundo nota oficial divulgada ontem pela Abin, foi a causa do mal-estar com a PF, que, segundo o informe, teria confundido a presença de agentes da instituição com colaboração clandestina a atividades criminosas.

A crise entre duas instituições do governo levou o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, a pedir explicações ao ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, general Jorge Félix. O diretor-geral da Abin, Mauro Marcelo, também teve de se explicar com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda.

Para superar o impasse e dar à opinião pública sinais de que está agindo com rigor contra a corrupção, o governo mobilizou todos os seus instrumentos investigativos, além da PF. A Controladoria-Geral da União (CGU), por exemplo, abriu auditoria especial em 18 de maio e destacou 28 auditores, que estão realizando operação pente fino em 600 contratos e mais de 400 licitações nos Correios.