Título: Japão prevê derrota do G-4 na ONU
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A11

O maior jornal japonês, o Asahi Shimbun, diz em reportagem publicada ontem que as chances de o Japão conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas "são menores a cada dia". O texto passa longe do otimismo demonstrado anteontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que declarou estar seguro da aprovação da proposta de reforma do conselho da ONU apresentada pelo grupo formado pelo Brasil, Japão, Alemanha e Índia - o chamado G-4. O jornal avalia que o Japão cometeu dois sérios erros de cálculo que afundaram a estratégia do país de ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança. Tóquio, diz o texto, superestimou o apoio dos Estados Unidos e subestimou a rejeição chinesa ao Japão. A China "tem usado sua crescente influência para impedir o antigo sonho japonês de integrar o exclusivo clube na ONU". Os atuais titulares, que têm poder de veto, são, além da China, Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia.

O primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, prossegue o texto, tentou prolongar o otimismo, dizendo que muitas nações iriam esperar até o último minuto para expor sua posição sobre a proposta dos quatro países de ampliar o número de membros do Conselho de Segurança.

Entretanto, um experiente diplomata, não identificado pelo jornal, foi mais moderado: "A situação tornou-se muito difícil. Como está agora, é improvável que o Japão consiga tornar-se um membro permanente."

O Asahi Shimbun avalia que a situação piorou na semana passada, quando a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu que o Japão adiasse a colocação em voto da resolução conjunta do G-4. Essa solicitação forçou o país a revisar sua estratégia.

Tóquio esperava, segundo o texto, contar com a força do suporte dos Estados Unidos para conseguir novos apoios na Ásia e na África. A avaliação das autoridades japonesas era a de que, se houvesse apoio de muitos países, a China não se arriscaria a ir contra o projeto.

O governo japonês também acreditava, segundo o jornal, que sua aliança com Brasil, Alemanha e Índia - três outros países que buscam o assento permanente - tornaria mais fácil conseguir o apoio dos 128 países-membros necessários para aprovar a resolução conjunta na Assembléia-Geral.

LAÇOS

O jornal destaca que os Estados Unidos têm deixado claro que não apóiam a ampliação das cadeiras permanentes no Conselho de Segurança porque isso tornaria mais difícil defender as posições de Washington na ONU.

O diplomata ouvido pelo Asahi Shimbun considerou que, enquanto os EUA considerarem problemático os quatro países do G-4 como membros permanentes, não há como o Japão - que está comprometido com o grupo - ser admitido sozinho. O mesmo raciocínio valeria, então, para o Brasil.

Segundo o jornal Asahi Shimbun, o Japão não só tem sido inábil para ler os sinais emitidos por Washington, mas também suas relações com a China se deterioram rapidamente a partir do momento em que Tóquio começou a campanha pelo assento de segurança. A resistência de Pequim tem sido, diz o texto, "inesperadamente forte". O diplomata ouvido pelo jornal a descreveu como "tremenda".

Autoridades japonesas, prossegue a reportagem, têm viajado pelo mundo em busca de um maior apoio para a resolução. Elas ouvem freqüentemente de seus interlocutores que seus governos gostariam de apoiar a proposta, mas eles têm de considerar seus laços com a China, que já antecipou que vai usar seu poder de veto para impedir a ampliação do conselho.

EMENDA

Em reportagem publicada ontem pelo Estado, o chanceler Celso Amorim mostrou otimismo e disse que uma emenda apresentada na quarta-feira vai influenciar o resultado da votação da proposta do G-4 na ONU. Segundo a emenda, ao se tornarem membros permanentes do Conselho de Segurança, Brasil, China, Alemanha e Índia e mais dois países africanos teriam o mesmo direito ao veto que os atuais titulares, mas assumiriam o compromisso unilateral de não usar essa prerrogativa por 15 anos.

"O ideal seria a igualdade absoluta entre os novos e os atuais membros do Conselho de Segurança, sem discriminações", afirmou Amorim. "Mas sabemos que isso não é realista. Nossa proposta deixa claro que não haverá exercício imediato do veto pelos novos membros, o que levou alguns países a se sentirem mais à vontade para nos apoiar."