Título: Na ordem do dia, queixas contra o governo
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A12

Dando o tom da alta temperatura dos quartéis, o comandante da Marinha, almirante Roberto de Guimarães Carvalho, aproveitou a cerimônia alusiva ao aniversário de 140 anos da Batalha do Riachuelo para em sua ordem do dia e, depois, em entrevista, advertir para a situação das Forças Armadas e reclamar um reajuste salarial dos servidores militares e civis, bem como a liberação de recursos para reaparelhamento da força. Segundo o comandante da Marinha, "há uma preocupação" de que as manifestações que hoje estão nas ruas possam se refletir nos quartéis. Indagado até quando seria possível segurar a tropa, o comandante, que assinou uma ordem do dia intitulada "inimigo à vista", respondeu: "Nós estamos contendo a tropa. Há uma insatisfação e existe um pleito, que é justo e reconhecido pelo próprio presidente da República". Em seguida, afirmou que todos estão aguardando uma solução para o problema.

O almirante comentou que, "como brasileiro", está preocupado com a situação política do Brasil, ao ser indagado se a temperatura nos quartéis estava subindo, respondeu: "Nos quartéis, não. Mas na rua, na movimentação, nesses protestos". Ele se referia ao protesto das mulheres dos militares que do lado de fora do Grupamento de Fuzileiros Navais gritavam por melhores salários para seus maridos e chegavam a pedir o impeachment do presidente Lula.

Mas o comandante da Marinha assegurou que as mulheres "estão exercendo o direito delas", assim como considera também um direito dos militares da reserva voltarem a falar sobre questões políticas e fazerem críticas ao governo.

Além de pedir o pagamento de "recuperação de perdas" de 36%, o almirante Roberto Carvalho defendeu que o orçamento da Marinha seja, pelo menos, dobrado. "E não é dobrar o (orçamento) deste ano e do ano que vem, não. É dobrar por um período razoável", apelou o almirante, ao salientar que, somente assim será possível melhorar as condições da Força. A Marinha tem hoje um orçamento previsto de R$ 1,1 bilhão para 2005, valor que não se sabe se será totalmente cumprido.

Apesar de a ordem do dia ser intitulada de "inimigo à vista" e, sem seguida, tratar das "sérias dificuldades" da Força, o comandante da Marinha negou que o inimigo seja o governo ou a área econômica, que nega aumento salarial e dinheiro para a manutenção dos meios navais.

Ele disse que se referia ao Paraguai, que era o inimigo de 1865, e ao vigia da Força Naval brasileira que alertou ao Almirante Barroso, patrono da Marinha, da ameaça que se aproximava.

Nas presenças do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, e do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), o comandante da Marinha passou a falar das dificuldades enfrentadas pela força, que classificou como "bastante sérias e implicando em riscos", embora todas de conhecimento dos escalões superiores.