Título: Presidente do STJ diz que não teme gravação de Cassol
Autor: Nilton Salina
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Nacional, p. A15

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Edison Vidigal, disse ontem não se intimidar com a possibilidade de figurar na lista de pessoas que tiveram conversas gravadas pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB). Vidigal tomou café da manhã na casa de Cassol há pouco mais de dois meses. Foi logo após o STJ ter recebido da Assembléia Legislativa autorização para processar o governador em ação movida pelo Ministério Público Federal. Na ação, o governador é acusado de formação de quadrilha e de favorecer empresas da família quando era prefeito de Rolim de Moura.

De acordo com o deputado Nereu Klosinski (PT), era voz corrente entre político de Rondônia que o governador havia gravado a conversa com o presidente do STJ: "Já foi dito no plenário da Assembléia que, além de deputados, Cassol grampeou membros do Judiciário e da imprensa. Ninguém duvida que ele tenha filmado a conversa com o ministro Vidigal, que não deve ter dito nada de mais no café da manhã".

Vidigal disse que não está preocupado: "Sou uma das pessoas mais gravadas do país. O dia inteiro tem grampo rodando o gabinete." Ele explicou que aceitou ir até a casa do governador depois de muita insistência dele. Também lembrou que partiu do STJ os mandados de busca e apreensão cumpridos na quinta-feira na casa de Cassol, em Porto Velho, e em sua fazenda, em Santa Luzia do Oeste.

Segundo o ministro, o STJ poderá expedir novos mandados de busca e apreensão, dentro do inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar gravações clandestinas e corrupção em Rondônia.

EQUIPAMENTO

O governador escondia em duas pastas o equipamento que usou para gravar as cenas exibidas pela TV Globo, nas quais apareciam deputados pedindo propina. Uma continha a microcâmera e o transmissor. Na outra havia um receptor, um vt para microfita e um monitor.

O superintendente da PF, Joaquim Mesquita, explicou que houve a necessidade de ir à casa de Cassol porque as fitas entregues por ele às autoridades não eram as originais. "É fácil perceber isso", disse Mesquita. "As imagens que apareceram no Fantástico foram feitas por uma microcâmera, e as fitas apresentadas eram VHS. Se as que apreendemos são de fato as originais, só a perícia poderá dizer, mas em primeira análise parecem ser. São compatíveis com o equipamento usado nas gravações."