Título: 'Sistema político não ajuda'
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Internacional, p. A16

A crise que levou à queda de Carlos Mesa começou, na realidade, com a saída forçada de seu antecessor, Gonzalo Sánchez de Lozada, em outubro de 2003, em meio a violentos protestos populares. Vivendo em Washington desde que deixou seu país, ele falou ontem ao Estado. O que achou da escolha de Eduardo Rodriguez como presidente?

Ele é um independente e honesto. Mas não tem apoio no Congresso nem na rua. Terá grande dificuldades para conseguir uma situação estável, porque o sistema político não ajuda. É meio unitário, meio federal, meio parlamentarista, com eleições proporcionais que impedem formação de maiorias claras.

Qual o desafio das forças democráticas nas próximas eleições?

Deveriam limitar-se a apresentar só um ou, no máximo, dois candidatos. Mas com dois candidatos, é arriscado, pois isso deixa Evo Morales, o candidato do cocaleros, na posição de definir o ganhador, já que no sistema boliviano o desempate é feito pelo Congresso, entre os três mais votados.

Quanto ao petróleo e ao gás, o governo resistirá o clamor das ruas pela nacionalização?

Creio que sim. Creio que o presidente não fará loucuras. O problema é que essa forças anárquicas que estão nas ruas convenceram os bolivianos de que sua pobreza deriva do fato de que está sendo levada toda a riqueza do país. A verdade é que a pobreza dos bolivianos resultado do fato de que as empresas que exploram o gás e o petróleo em regime de concessão não estão exportando, com exceção das vendas ao Brasil.