Título: A inflação recua
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Economia, p. B2

Desta vez, os indicadores de preços parecem mostrar que a estrada para a reunião do Copom agendada para quarta-feira está bem pavimentada. Estão longe de apontar para imediato recuo dos juros, mas podem evitar mais uma alta. Em maio, a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, ficou dentro das expectativas, em 0,49%, bem mais baixo do que o 0,87% registrado em abril. É um avanço ainda alto demais, que compõe nos cinco primeiros meses de 2005 uma inflação de 3,2%, num ano que não deveria ter uma inflação superior a 5,1%, como pede a política de metas.

Mas há bons elementos para apostar em que a inflação está, enfim, cedendo terreno para a política dos juros. O IGP-M de maio apontara uma inflação negativa de 0,22%, graças a um recuo de 0,77% nos preços do atacado que, por sua vez, têm a ver com queda dos preços do dólar no câmbio interno e das commodities tanto metálicas como alimentícias. Se é verdade que a inflação no atacado prenuncia inflação do varejo (custo de vida), inflação negativa no atacado também prenuncia inflação mais baixa nos meses seguintes. Esta não é uma decorrência inevitável, mas é consistente com o fato de que redução de preços cobrados na produção tende ao menos a evitar reajustes de preços no mercado varejista.

Uma análise sumária do comportamento dos preços na cesta do IPCA também parece conduzir ao mesmo ponto, já que a maior pressão ocorreu em segmentos que não deverão repetir-se com força (vestuário, seguro de veículos, plano de saúde e condução). Parece indício de que já não há a exacerbação do consumo vista há dois ou três meses.

Além disso, há o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fipe, o primeiro índice de varejo a acenar um recuo dos preços em junho. No período de quatro semanas (quadrissemana) terminado dia 7, o custo de vida em São Paulo subiu só 0,19%. Esse número não autoriza a conclusão de que outros indicadores de preços estejam se comportando do mesmo jeito porque a composição da cesta de preços pesquisados e a metodologia de cálculo variam de índice para índice. Em todo caso, à medida que a economia vai ganhando estabilidade, os números dos índices tendem a convergir para o mesmo ponto e é algum grau dessa convergência que se espera ver entre o IPC da Fipe e o IPCA.

O diabo é que isso não encerra o assunto porque há novo fator negativo no mercado: as denúncias de que verbas públicas estejam sendo repassadas para políticos com objetivo de garantir apoio à base de sustentação do governo. Este não é fator de aumento automático de preços. No entanto, turbulências geram medo, medo aciona mecanismos defensivos na sociedade, especialmente procura de moeda estrangeira, e alta do dólar tende a aumentar os preços dos produtos importados.

Fator que também pode levantar alguma preocupação é o comportamento claramente insatisfatório do investimento, que caiu 3,9% no quarto trimestre do ano passado e caiu mais 3,0% no primeiro deste ano, como as últimas informações do IBGE acabam de mostrar. Se as tensões políticas aumentarem à medida que saírem os depoimentos na CPI dos Correios, o setor que mais rapidamente deverá acusar uma retração é o dos investimentos. E atraso nos investimentos pode significar menos produção e maior propensão ao aumento futuro dos preços.

Em outras palavras, há razões para acreditar que, finalmente, o Copom estará diante de um recuo significativo da inflação. Falta saber se isso será suficiente para reverter o prognóstico ainda pessimista da ata da última reunião.