Título: Dilma: oferta de gás dura 15 dias
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Economia, p. B6

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, afirmou ontem que o fornecimento de gás natural no País poderá ser mantido por mais duas semanas. A declaração foi feita após uma reunião com representantes do Conselho Superior de Infra-Estrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Coinfra/Fiesp). A previsão da ministra contrasta com a avaliação da Petrobrás, na quinta-feira, de que o abastecimento duraria mais cinco ou seis dias. A estimativa de Dilma tem base no que ela chamou de "cenário médio". Tal "cenário" considera a manutenção da atual situação política boliviana, naturalmente sem agravamento, ponderou a ministra.

Para administrar a crise e evitar o racionamento, o governo criou um grupo de trabalho, uma espécie de câmara de gestão semelhante à montada pelo governo Fernando Henrique Cardoso no episódio do apagão, em 2001.

O grupo tem menos poder, mas tem a incumbência de encontrar formas de reduzir o consumo de gás natural. A demanda atual brasileira de gás da Bolívia é de 22 milhões de metros cúbicos por dia.

O grupo, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e integrado por órgãos e empresas do governo, além das distribuidoras de gás, passou o dia de ontem reunido no Rio de Janeiro para iniciar a elaboração do plano de contingência.

A ministra disse que o País ainda não sabe qual a necessidade de redução de consumo. "Não sabemos para quanto o consumo deve ser rebaixado. Assim que soubermos vamos informar", afirmou.

Dilma disse que aguarda números da Petrobrás sobre a contribuição que a estatal poderá dar com a suspensão do uso do gás para geração de energia térmica que abastece as refinarias. "Eles estão fazendo o levantamento dos dados."

Além da Petrobrás, as térmicas a gás também serão levadas a suspender a geração, salvo em situações em que a região dependa do fornecimento destas. Segundo a ministra, o esforço neste momento se resume a tentar "adiar ao máximo" qualquer medida mais drástica: o racionamento.

A segunda frente, também sob a responsabilidade do grupo, é deixar pronto o plano de contingência para ser executado a qualquer momento. De acordo com Dilma, o principal foco desse plano é identificar consumos de gás natural que podem ser substituídos por outros combustíveis.

"Em havendo como substituir o gás natural, inicia-se o trabalho de viabilizar a logística para que a substituição ocorra", explicou.

O governo promete intermediar negociações com as agências estaduais que regulam a distribuição de gás, além de pedir tolerância das agências de meio ambiente para eventuais problemas ambientais. "Será por um motivo de força maior", disse Dilma.

Ainda não está claro quais consumidores poderiam fazer de imediato uma troca de combustível, tampouco se haverá compensação econômica caso a mudança implique elevações de custo.

O setor industrial, que em São Paulo consome 79% das vendas da maior concessionária do Estado, a Comgás, prefere agir com cautela. Em pronunciamento posterior ao da ministra, o presidente Fiesp, Paulo Skaf, disse que a situação "é muito nova" e, portanto, não há uma avaliação muito precisa sobre as alternativas.

Skaf disse que a crise boliviana pode ser resolvida "em horas, dias ou semanas". Há setores industriais, como os ceramistas, por exemplo, que não tem condições de fazer mudanças imediatas para outro tipo de combustível.