Título: G-8 estuda perdão da dívida dos mais pobres
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Economia, p. B7

O perdão da dívida dos países mais pobres do mundo dominou o primeiro dia da reunião dos ministros das Finanças do G-8, em Londres. A Grã-Bretanha está pressionando os demais membros do grupo a aceitarem o plano que desenvolveu com os Estados Unidos no sentido de cancelar US$ 15 bilhões em dívidas, permitindo que esses países apliquem em saúde, educação e infra-estrutura o dinheiro que seria destinado a pagar os compromissos e seus respectivos serviços. Uma decisão sobre o assunto será tomada na reunião dos líderes do grupo prevista para a Escócia, no mês que vem. Mas há divergências. Um funcionário do Ministério das Finanças da Rússia, que pediu anonimato, disse que só agora sua economia começa a se estabilizar, e lembrou que a comunidade internacional não perdoou a dívida russa.

A Grã-Bretanha e os EUA negociaram esta semana, em Washington, um plano pelo qual os membros do G-8 (além desses dois países, Itália, Alemanha, França, Canadá, Japão e Rússia) cancelem 100% da dívida que os países mais pobres devem a instituições como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Banco Africano de Desenvolvimento. No encontro com o primeiro-ministro Tony Blair, o presidente Bush fez uma concessão: concordou que o dinheiro usado para cancelar a dívida não saia de futuros pacotes de ajuda.

Foi elaborada uma lista que recebeu o nome de Países Pobres Fortemente Endividados (PPFE). Num primeiro passo, 18 nações dessa lista seriam beneficiadas com o perdão, incluindo Benin, Bolívia, Burkina Fasso, Etiópia, Gana, Guiana e Mali. Outros nove completariam objetivos de boa governança e se habilitariam para o benefício. Há 38 PPFEs, segundo o Banco Mundial, que criou essa iniciativa em 1996.

O secretário do Tesouro britânico, Gordon Brown, está otimista. "Ainda há muito a fazer, mas acredito que predomina a vontade de chegar a um entendimento. Se obtido, será o maior acordo desse tipo que o mundo já viu".

O ministro das Finanças do Canadá, Ralph Goodale, disse que o seu país está preparado para assumir sua parcela de responsabilidade no projeto. "Estou mais otimista do que nunca quanto a um acordo", afirmou.

Seu colega italiano, Domenico Siniscalco, avistou-se com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, e depois disse à imprensa que está muito otimista em relação ao apoio do grupo ao projeto.

O eventual perdão compreenderá apenas parte das dívidas dos países pobres. O valor do endividamento de todos eles é muito maior do que os US$ 15 bilhões. Só as nações da África subsaariana devem US$ 68 bilhões ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial e ao Banco Africano de Desenvolvimento.

OURO

A idéia de Blair e Bush é que após o cancelamento da dívida, os países ricos emprestem mais dinheiro aos PPFEs.

Mas persistem dúvidas quanto ao modo como financiar o perdão da dívida. Os britânicos propuseram que o FMI venda parte de suas expressivas reservas de ouro para levantar dinheiro. Porém, os americanos dizem que isso prejudicaria o mercado desse metal.

Os representantes dos oito países mais ricos do mundo também devem discutir hoje, último dia do encontro, o impacto da alta do petróleo na economia global. Em um ano, a commodity subiu 40%.