Título: UE e China fazem pacto sobre têxtil
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2005, Economia, p. B12

A União Européia (UE) e a China chegaram ontem a um acordo que prevê limites das exportações têxteis chinesas. "O acordo prevê um crescimento razoável das exportações têxteis chinesas à UE", em níveis a serem aplicados de forma imediata e até o final de 2005, e ajustáveis à alta em 2006 e 2007, explicou o comissário de Comércio do bloco europeu, Peter Mandelson. O crescimento será de cerca de 10% ao ano. Segundo Mandelson, a solução é duradoura e abrange quase todos os produtos que preocupavam a Organização Européia do Setor Têxtil (Euratex), dando à indústria da Europa "tempo para se ajustar" à completa liberalização do setor, prevista para 2008. O comissário garantiu que o "pacto dará estabilidade à indústria européia, aos exportadores chineses e aos demais países desenvolvimento que dependem do comércio têxtil".

O acordo, fechado após mais de dez horas de negociações a portas fechadas, refere-se a todas as categorias de produtos têxteis que estavam sendo investigadas pela UE. Mandelson havia iniciado, no início de maio, processo de investigação de salvaguarda sobre nove categorias de produtos têxteis chineses, e no fim do mesmo mês pediu consultas formais a Pequim sobre dois deles: camisetas e fio de linho. Assim, a UE ativou o mecanismo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que dava à China 15 dias para limitar suas vendas.

O ministro do Comércio da China, Bo Xilai, ressaltou o importante resultado das negociações com a UE que "demonstram que a China é responsável e, como grande potência comercial do mundo, deseja ver o desenvolvimento sustentável e estável" dos intercâmbios.

A UE, "ao contrário de outros países, não toma ações unilaterais, mas trata de resolver os problemas de forma adequada e amistosa mediante consultas", disse Bo, referindo-se aos Estados Unidos, que já impuseram limites a sete categorias de produtos têxteis chineses.

Mandelson também fez alusão aos EUA, dizendo que Pequim e Bruxelas "deram uma lição a outros", que optam pela via do confronto. "Se você me respeita hoje, eu lhe respeitarei amanhã", disse o ministro, momentos após ter presenteado o comissário europeu com uma camiseta pólo cinza, fabricada na China.

Bo declarou, porém, que exportar à UE é "um direito legítimo" da China, conquistado em troca de múltiplos compromissos e da abertura de seu próprio mercado. O país teve acesso à OMC em 2001. Ele afirmou ainda que certa pressão sobre a indústria têxtil européia pode ser positiva, já que forçará os produtores da UE a serem mais competitivos e a reestruturar suas operações.

Segundo Mandelson, "a partir de agora, temos três anos para concentrar nossos esforços em outras questões como investimentos e a necessária criação de emprego".

O acordo ainda precisa ser aprovado pelos 25 países da UE. Mas diplomatas de Bruxelas já dão como certa sua ratificação, pois ele agradou até os franceses e italianos, que eram as mais duras contra os chineses. "Sem o acordo, as alternativas são permitir que as importações chinesas continuem chegando e perturbando o mercado ou impor medidas unilaterais, que nos dariam proteção por um pequeno período e uma disputa desagradável com os chineses", explicou um funcionário da UE, que pediu para não ser identificado.