Título: PF prende 4 acusados no caso dos Correios e Abin fica sob suspeita
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Nacional, p. A4

As prisões, ontem, de quatro integrantes da quadrilha acusada de corrupção dentro dos Correios levaram o governo a investigar sua própria agência de inteligência, a Abin. A Polícia Federal descobriu que a agência, sucessora do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), teria uma banda podre atuando a serviço de grupos criminosos especializados em lesar o patrimônio público, fraudar licitações em estatais e chantagear políticos e autoridades com informações comprometedoras. Foram presos ontem o capitão aposentado da Polícia Militar de Minas Gerais José Fortuna Neves, o oficial da Marinha Arlindo Molina e os detetives particulares João Carlos Mancuso Vilela e Joel Santos Filho. Outras prisões deverão ser feitas nos próximos dias em decorrência do inquérito que apura o escândalo dos Correios.

Por interesses contrariados na partilha das licitações da estatal, segundo as investigações da PF, Fortuna e Molina teriam encomendado a João e Joel a gravação da fita em que o chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, aparece embolsando propina de empresários.

Os quatro pertencem à comunidade de informações e, conforme apurou a PF, mantinham com membros da Abin relação de troca de serviços. Fortuna trabalhou no SNI até 1986 e, conforme apurou a polícia, até hoje exerce forte influência sobre parte corrompida da instituição. Ele é pai de dois filhos, um deles, Marcelo Campos Neves, é sócio do pai e trabalha no gabinete do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti.

Molina, embora nunca tenha trabalhado diretamente no SNI, tem ligações com a comunidade de informações. Os dois prestaram depoimento ontem e, por serem militares, cumprirão o período de prisão provisória em quartéis da PM e da Marinha, respectivamente. Ao longo do dia, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão em Brasília, onde vivia Fortuna, no Rio, onde foi preso Molina, e em Curitiba, onde os dois foram requisitados para a tarefa de grampear Marinho. Na fita, divulgada pela revista Veja há um mês, o dirigente alega que integra equipe de dirigentes plantados na estatal pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, para levantar fundos para o partido cobrando propina dos empresários beneficiados por licitações viciadas.

A PF, o Ministério Público e a Controladoria-Geral da União estão periciando mais de 600 contratos, envolvendo mais de R$ 3,2 bilhões, firmados pelos Correios nos últimos dois anos para verificar quais trazem vícios. Fortuna e Molina foram citados na entrevista em que Jefferson detalhou como ficou sabendo do esquema de corrupção na estatal. Segundo o parlamentar, Molina, dizendo falar em nome de Fortuna, teria tentado "negociar" a fita com ele.

O advogado de Fortuna, Reginaldo Bacci, informou que seu cliente é inocente e estaria sendo acusado do grampo por pessoas querem prejudicá-lo. "O deputado (Jefferson) acusa a tudo e a todos para confundir a mídia, o governo e os aliados, para que nada seja investigado. Ele está atirando para todos os lados." Disse que seu cliente não quer relaxamento de prisão, para dar à polícia todos os esclarecimentos necessários. Conforme a PF, porém, Fortuna entrou em contradições e admitiu que teve interesses contrariados porque, mesmo tendo feito campanha por Marinho, vinha perdendo licitações que disputou com suas empresas. Uma delas, a Atrium, foi alvo de mandado de busca e apreensão ontem. Foram devassadas também a casa do militar e de seus dois filhos para busca de documentos, computadores, disquetes e provas criminais.