Título: CPI é instalada, mas há impasse na escolha do relator
Autor: Eugênia Lopes, Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Nacional, p. A5

Terminou em impasse ontem a primeira reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para investigar denúncias de corrupção nos Correios. Sem acordo sobre a escolha do presidente e do relator da comissão, os líderes do governo e da oposição decidiram adiar para terça-feira a escolha dos ocupantes dos postos-chave. Até lá, os adversários tentarão fechar um acordo. O governo começou o dia decidido a ter o controle total da CPI. PT e PMDB se uniram para tentar impor os nomes do presidente e do relator. A presidência deveria ficar com o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), e a relatoria com o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), recentemente derrotado na Câmara para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Ambos são aliados fiéis do Palácio do Planalto.

A proposta dos governistas foi categoricamente rejeitada pela oposição. O senador Jefferson Péres (PDT-AM) - que presidia a reunião por ser o integrante mais velho da CPI - propôs a suspensão dos trabalhos para que governo e oposição buscassem um consenso longe das câmeras de TV.

Antes do início do funcionamento da CPI, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), procurou os líderes do PFL, José Agripino Maia (RN), e do PSDB, Arthur Virgílio (AM), para sugerir que a presidência da comissão ficasse com o senador Edison Lobão (PFL-MA), fiel integrante da bancada do senador José Sarney (PMDB-AP). A relatoria ficaria nas mãos do deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Mas os oposicionistas rechaçaram a proposta e insistiram na indicação do senador César Borges (PFL-BA), preterido pelo governo.

"Quando não há acordo, vai-se ao voto", afirmou Mercadante, na primeira parte da reunião. Arthur Virgílio respondeu: "O governo poderá começar desacreditando a CPI. Não tenho dúvidas que se for para votação, a oposição perderá. Mas a vitória do governo será de pirro. Sairá vitorioso, mas destroçado".

Os líderes de oposição argumentaram que nas últimas CPIs - a do Banestado e a da Terra - coube ao bloco oposicionista ocupar a presidência de ambas. O PFL e o PSDB juntos têm 29 senadores, contra uma bancada de 23 do PMDB. A tese foi, no entanto, contestada pelos governistas. "A maior bancada do Senado, que é o PMDB, e da Câmara, que é o PT, é que indica tanto a presidência quanto à relatoria", alegou Mercadante.

Ele aproveitou para dizer que as investigações da CPI não ficarão restritas ao relato do ex-diretor da estatal Maurício Marinho. "Vamos analisar a história recente dos Correios e fazer uma investigação ampla que inclui os dois anos e meio de governo Lula mas também os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso", disse o líder do governo.