Título: Decidido: Meirelles vai ser mesmo substituído no BC por Portugal
Autor: Beatriz Abreu, Colaborou: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Nacional, p. A8

Não adiantou blindagem com status de ministro. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, será mesmo afastado da instituição e sua troca pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, poderá ocorrer nos próximos dias, segundo versões sobre os desdobramentos da crise política que resultou na instalação da CPI dos Correios. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve se antecipar a uma eventual decisão judicial e retirar não apenas Meirelles do governo, mas também o ministro da Previdência, Romero Jucá, ambos sob investigação do Supremo Tribunal Federal (STF). Lula gostaria de evitar o constrangimento de afastá-los sem que o Supremo tivesse encerrado as investigações. Mas está sendo pressionado a agir para reafirmar sua credibilidade e restabelecer a confiança nas instituições, como enfatizou no discurso em que enumerou as ações de seu governo contra a corrupção, no 4º Fórum Global de Combate à Corrupção. Seria o segundo passo, depois da bem-sucedida ação de demitir a presidência e toda a diretoria da ECT e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).

O modelo que será adotado na eventual reforma da equipe ainda está em discussão no Planalto, pois só ontem o ministro da Casa Civil, José Dirceu, chegou a Brasília de uma viagem à Espanha e a Portugal. As versões sobre a reação de Lula ao noticiário que joga seu governo em suspeitas de corrupção e suborno consideram que Dirceu pode assumir o Ministério da Saúde.

Lá, ele poderia se cacifar politicamente. Nessa hipótese, a Casa Civil seria ocupada pelo atual ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem se destacado na solução dos sucessivos problemas que o governo do PT vem enfrentando.

Existe, ainda, a possibilidade de estender a reforma da equipe a todos os ministros que têm mandato parlamentar. A justificativa neste caso é pragmática. Os governistas avaliam que os ânimos ficarão cada dia mais acirrados no Congresso, depois de o governo decidir abrir guerra contra os partidos de oposição para garantir o controle da CPI dos Correios, indicando aliados para a presidência e a relatoria da comissão. Com isto, aliados do Planalto prevêem tempos de maiores dificuldades para o governo. É tal cenário que recomendaria a volta de uma dezena de ministros parlamentares, que reassumiriam seus mandatos para reforçar a base no Congresso.

O PMDB, no entanto, não está aceitando pacificamente a possibilidade de Jucá deixar a Previdência. Nos bastidores, parlamentares do partido ameaçam criar dificuldades ao governo e lembram que o suplente de Jucá, senador Wirlande da Luz (RR), foi indicado para a CPI. De volta ao Senado, Jucá assumiria imediatamente o posto na comissão.

A troca de comando do BC, apesar do constrangimento de Lula, é mais fácil. O nome de Murilo Portugal certamente será aprovado no Senado. A situação de Meirelles piorou depois que o STF decidiu acatar o pedido do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, e autorizar a investigação da principal autoridade monetária do País. "Na prática, foi uma blindagem que nem o Supremo aceitou", disse uma fonte.