Título: PT exige indenização de vereador que trocou legenda pelo PSDB
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Nacional, p. A9

O mesmo PT que patrocinou, desde 2003, uma debandada nos partidos de oposição no Congresso está cobrando uma "indenização" do vereador Marcelo Gaspar, do Guarujá, por ter trocado o partido pelo PSDB há dois meses. Pouco tempo depois de sair do PT, Gaspar recebeu um ofício da Comissão Provisória do PT do Guarujá, notificando que ele deveria pagar, até 15 de junho, a importância de R$ 57.242. A notificação já veio acompanhada de um boleto bancário em favor do PT. A cobrança não é uma invenção da Comissão Provisória do PT de Guarujá. O Estatuto do PT, no artigo 212, parágrafo único, prevê a cobrança de uma "indenização" a quem ocupar cargo eletivo e deixar o partido. A conta que foi para Gaspar tem o valor indicado pelo Estatuto _ 12 meses da remuneração de vereador do Guarujá.

Gaspar, um médico ginecologista de 34 anos, diz que não vai pagar. "Um partido que não faz outra coisa senão tirar gente para enfraquecer os partidos de oposição no Congresso não tem moral para cobrar a alguém que saiu dele", afirma. E também porque acha que não deve nada ao PT, que ele hoje acha mais parecido com uma empresa ávida de lucro do que com um partido voltado para as questões sociais.

Um dos integrantes da Comissão Provisória do PT do Guarujá, João Batista Calixta, disse ao Estado que a "indenização" foi cobrada porque Gaspar "saiu do PT sem dar satisfação a ninguém e porque foi eleito com os votos de legenda do partido e depois o abandonou". Calixta não quis comentar o estímulo que o PT dá à troca de partidos por parlamentares dos partidos de oposição no Congresso: "Isso é lá. Nosso mundo é o Guarujá", limitou-se a dizer.

Gaspar replica. Diz que procurou o secretário-geral do PT local e lhe comunicou que estava mudando para o PSDB. E conta que sua campanha foi custeada por recursos próprios, com exceção de ajuda material de R$ 3.500, que os 28 candidatos a vereador receberam.

Ele diz que entrou no PT, em 2001, porque o partido lhe pareceu o melhor canal para sua luta pela melhoria das condições de saúde na Baixada Santista. A primeira decepção se deu quando a candidata a prefeito escolhida nas prévias foi abruptamente substituída por um candidato imposto pela executiva estadual do PT. Outra foi não poder escolher um assessor que não fosse filiado ao partido. "Impressionante como eles adoram um emprego", ironiza.

Mas afirma que as maiores decepções foram com o governo Lula, de quem esperava muito, principalmente nas questões de saúde. "Não agüentava mais explicar os erros do governo federal para meus amigos, eleitores e pacientes", queixa-se. Hoje, com um tucaninho espetado na lapela do jaleco, descobriu que o PT "não tem maturidade para governar".