Título: Tempestade abala mercados e petróleo vai a mais de US$ 54
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B4

Os preços do petróleo superaram US$ 54 o barril, após o alerta de que a tempestade tropical Arlene se dirige ao Golfo do México. O mercado teme que a produção de petróleo e gás da região possa ser interrompida, como no ano passado. A Arlene, que inaugura a temporada 2005 de tempestades no Atlântico, deve entrar nos EUA hoje. Os contratos de petróleo na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex) para julho fecharam em US$ 54,28 o barril, alta de 3,31%, apagando grande parte das perdas registradas nesta semana. Em Londres, na Bolsa Internacional de Petróleo (IPE), os contratos do petróleo tipo Brent fecharam em US$ 53,82, avanço de 3,28%.

Segundo a previsão meteorológica, a Arlene deve ser só uma tempestade tropical, mas há sinais de que pode se transformar em um furacão fraco. A expectativa é de que a tempestade não causará grandes interrupções na produção, mas os investidores ficaram inquietos porque ainda está fresca na memória a lembrança dos problemas causados pelo furacão Ivan em 2004. O Ivan fez com que as petrolíferas deixassem de produzir mais de 43 milhões de barris de petróleo e levassem meses para voltar à regularidade. "A ressaca do estrago provocado pelo Ivan ainda está na cabeça de todo mundo", disse o vice-presidente de gerenciamento de risco da corretora Fimat Futures, John Kilduff.

Já a a declaração do presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Ahmad Fahad al-Sabah, de que é consenso no cartel a intenção de manter inalterada a produção de petróleo apenas serviu para ratificar a percepção do mercado que a organização é incapaz de atender o aumento da demanda no fim do ano.

O diretor-executivo de um dos principais grupos petrolíferos do mundo, British Petroleum (BP), Lord Browne, engrossou o coro daqueles que apostam na continuidade de preços altos do petróleo. Segundo ele, as cotações devem continuar acima dos US$ 40 até que novas fontes de produção sejam efetivadas em três ou quatro anos.

Segundo o jornal Financial Times, Lord Browne surpreendeu os analistas, que esperavam uma avaliação mais positiva. "Para o futuro imediato a expectativa é de que os preços vão continuar relativamente altos, talvez um pouco acima dos US$ 40 por barril." Ele é o primeiro executivo de uma grande petrolífera a dizer que os preços permanecerão altos. Até agora, Browne previa um preço médio de US$ 30.

O executivo disse que os preços elevados e a instabilidade no mercado de petróleo intensificaram a preocupação com a segurança no setor energético, mas alertou que é preciso cautela com a estratégia. "A política pública, no Reino Unido, na Europa e em outros lugares não deveria ser elaborada para criar uma ilusão cercada por barreiras de proteção e a falsas presunções de auto-suficiência", disse. "Em vez disso, deve-se apoiar os trabalhos do mercado internacional para remover as barreiras ao investimento, que ainda permanecem." Segundo ele, os investimentos em pesquisa tecnológica e infra-estrutura são fundamentais para a segurança do setor.