Título: Lula pede ousadia à Petrobrás
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B4

No dia da abertura da CPI dos Correios, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso otimista ontem no Rio de Janeiro, onde participou da entrega da plataforma P-47, e manifestou apenas um motivo de sofrimento: a derrota no futebol. Ao cobrar "mais ousadia" da Petrobrás, o presidente disse que a estatal do petróleo não pode agir como a seleção brasileira na noite de quarta-feira, quando perdeu para a Argentina. "Tenho quase 60 anos de idade e gosto de futebol desde os 7. Nunca sofri tanto quanto naqueles 45 minutos do jogo", disse o presidente, referindo-se ao primeiro tempo da partida. Em meio a discursos entusiasmados sobre a retomada da indústria naval e a defesa da reeleição de Lula, na inauguração da plataforma P-47, a governadora do Estado, Rosinha Matheus (PMDB), causou surpresa e desconforto na platéia de maioria petista ao falar da crise política e das denúncias que envolvem integrantes do governo, do PT e de partidos aliados. Rosinha foi a única a tocar no assunto que todos evitavam.

O presidente ouviu, aplaudiu, mas não fez nenhuma referência à crise em seu discurso. Preferiu comemorar a entrega da P-47, plataforma adaptada por uma empresa paulista para processar, armazenar e tratar o óleo produzido por outras plataformas da Bacia de Campos. A P-47 é considerada o marco do avanço da indústria naval brasileira, esvaziada nos anos 80 e 90.

COBRANÇA

Apesar dos elogios à Petrobrás, que disse ser "a namorada com quem todos querem casar", o presidente cobrou mais parcerias e investimentos. "Ainda falta um pouco de ousadia à Petrobrás. Precisa sair um pouco para o ataque mais veloz para a frente. Não podemos fazer o que o Brasil fez contra a Argentina", discursou Lula, voltando-se para o presidente da estatal, o petista José Eduardo Dutra. "Tem mais espaço para a Petrobrás em muitos países do mundo. Tem muito mais buraco para a gente fazer, no mar ou fora do mar, e muito mais petróleo e gás para a gente tirar."

Lula falou da demora em se firmar a parceria entre a Petrobrás e a estatal venezuelana, PDVSA. "O Chávez (Hugo Chávez, presidente da Venezuela) já arrumou até lugar para o casamento, quer que eu e ele sejamos padrinhos da fusão", brincou. Fusão que, na prática, é uma parceria através da qual a Petrobrás exploraria petróleo na Venezuela e os venezuelanos investiriam no setor de refino no Brasil.

Do lado de fora da Estação Marítima de Passageiros do Porto do Rio, houve manifestações pró e contra o governo Lula. O presidente não chegou a ver o protesto dos sindicalistas que pediam mudanças nas indicações políticas da Companhia Docas do Rio de Janeiro. Servidores federais em greve juntaram-se aos portuários.

De outro lado, estavam cerca de 500 operários da indústria naval do Rio, Angra dos Reis e Niterói, aguardando Lula com faixas de agradecimento pela retomada das construções.

Representante do Fórum Intersindical dos Trabalhadores da Indústria Naval, Luiz Chaves fez um discurso de muitos elogios a Lula, disse que os trabalhadores estão preparados "para reeleger Lula", mas não perdeu a chance de pedir: "É preciso fazer mudança na política econômica, para gerar empregos." Lula riu e cumprimentou o sindicalista.