Título: Interesse brasileiro pelo uso do gás é recente
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B4

O gás natural tem história relativamente nova no Brasil. O interesse do País pelas reservas bolivianas data da década de 50. Apenas no começo da década de 90, quando a auto-suficiência em gás da Argentina tirou dos bolivianos o principal mercado, a história mudou. Para os bolivianos, sobrou o Brasil, que já havia demonstrado interesse em ampliar o uso desse novo combustível no País. Dar-lhe alguma relevância na chamada matriz energética nacional.

Com o governo Fernando Henrique Cardoso, o projeto de infra-estrutura para a ligação entre os campos bolivianos e o mercado consumidor brasileiro (Centro-Oeste, Sul e, principalmente, Sudeste) foi finalmente viabilizado. O Gasbol foi construído e a transferência de gás para o Brasil começou efetivamente em 1999.

Até o começo da década de 90, o gás respondia por cerca de 2% da matriz energética brasileira. A meta, a partir desse período, foi audaciosa: elevar a participação do gás natural para 12% de toda energia consumida no País até o ano de 2010.

"Esse foi o único momento em que o País definiu uma meta clara em relação ao gás. Não se sabe exatamente se o governo Lula referenda essa meta ou tem outras em relação a participação desse combustível na matriz", explica Sérgio Valdir Bajay, professor do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Enérgico.

Pelo balanço energético nacional, o gás responde por 7% da matriz. Ganha espaço nos carros, no comércio, na indústria e, em breve, no setor químico, ao servir de matéria-prima petroquímica. "O gás natural no Brasil sempre foi orientado para a indústria. Apenas essa tinha condições de custear investimento de infra-estrutura inexistentes", afirma.

A despeito do problema político na Bolívia, o consumo de gás tende a crescer. Segundo Bajay, a razão para isso está na descoberta de grandes reservas de gás na Bacia de Campos e principalmente devido ao aumento da produção de petróleo.

"O Brasil passou a dar grande importância ao gás exatamente porque, ao ampliar a exploração de petróleo, tem produção associada de gás natural", diz.

O gás associado ao petróleo foi durante muito tempo simplesmente queimado nas plataformas de petróleo da Petrobrás. "Não havia o que fazer, o gás ou era injetado nos poços para aumentar a pressão ou era queimado", diz Bajay. Hoje, o aproveitamento é muito maior e tende a crescer. A expectativa é que a produção em Santos comece em 2008.