Título: GNV: oficinas e taxistas em pânico
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B4

A eventual interrupção no abastecimento de gás natural veicular (GNV), uma das propostas em análise pelo governo para evitar a escassez do produto, deixou alarmados motoristas e empresas de conversão de motores. A rede de oficinas 5 Rodas, com quatro unidades na capital e interior, teme a perda de investimentos realizados. Taxistas, principais consumidores do produto, prevêem queda de receita. "Quem investiu na conversão vai se sentir lesado, pois supunha-se que jamais faltaria gás", diz o diretor comercial da Coopertaxi, com frota de 420 automóveis, 80% movidos a gás. Segundo ele, o custo para rodar com GNV é 50% a 70% mais barato em relação à gasolina e entre 30% e 50% na comparação com o álcool. O custo da conversão é de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil.

Marcelo José Rodrigues, gerente da 5 Rodas, afirma que o número de conversões caiu entre 50% e 60% nas últimas semanas por causa de declarações sobre a possível falta do produto e aumento de preços. Na loja de Santo André, no ABC paulista, a média diária baixou de 12 para 6 transformações. Na unidade da Barra Funda, na capital, de 8 para 3. Com as novas ameaças, o faturamento pode cair ainda mais, diz ele.

Com mais duas unidades, em São José dos Campos e Campinas, o grupo também viu as vendas de kits de conversão despencarem. "Fornecemos para outras oficinas, mas as encomendas caíram", diz Rodrigues.

De acordo com o diretor da Associação Brasileira de Gás Natural Veicular (ABGNV), Oswaldo Colombo Filho, desde meados de maio a média mensal de conversões caiu de 22 mil veículos para 16 mil.

O Brasil tem mais de 920 mil veículos movidos a gás. "É a segunda maior frota mundial, atrás da Argentina, que tem 1,3 milhão de veículos", afirma Colombo. Dos 40 milhões de metros cúbicos diários de gás consumidos pelo País, 12,5% são para abastecimento veicular. Desse total, metade vem da Bolívia.

"Falta planejamento por parte do governo, pois esse mercado cresceu sem incentivos e era visto como alternativa para reduzir o consumo de gasolina e a emissão de poluentes", diz Romero de Oliveira, presidente da Associação das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado.

O Comitê de Gás Natural Veicular do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) questiona a queda de conversões. O órgão informa que o número de motores convertidos no País em maio foi de cerca de 15 mil. A média teria ficado acima da esperada, considerando o reajuste de 18% nos preços dos componentes.

Para Edmilson Moutinho, professor da USP e especialista na área energética, há desperdício de gás principalmente na queima feita pelas termoelétricas. A falta de infra-estrutura para a distribuição também provoca perdas.

Mesmo com o cenário de incertezas e a queda nas encomendas de cilindros, a White Martins, líder no mercado de gases industriais e medicinais, investirá este ano US$ 65 milhões na ampliação da produção. Também segue com as obras de uma unidade de gás natural liquefeito (GNL) em Paulínia (SP), em parceria com a Petrobrás.