Título: Boataria eleva dólar e derruba bolsa
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2005, Economia, p. B15

A boataria contaminou o mercado ontem. Rumores sobre uma reforma ministerial de emergência e fitas comprometedoras em posse do deputado Roberto Jefferson levaram o dólar a fechar em alta de 1,46%, cotado a R$ 2,498, e a Bovespa a registrar queda de 0,88%. Foi o quinto pregão consecutivo em baixa. "O dia foi muito favorável no mercado internacional, deveria ter sido bom aqui também", diz Luis Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,25% e o Nasdaq avançou 0,81%. A bolsa americana reagiu positivamente ao discurso do presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que sugeriu que a política monetária nos EUA manterá ajustes graduais nas taxas de juros.

No Brasil, a preocupação sobre os desdobramentos políticos da CPI dos Correios e as denúncias do "mensalão" dominaram o cenário. No fim da tarde, o risco Brasil subia 1 ponto, para 445 pontos. O C-Bond, título da dívida externa brasileira, teve queda de 0,31% e o Global 40, o título mais líquido, acumulou baixa de 0,47%.

A previsão do depoimento do deputado Roberto Jefferson à Comissão de Ética da Câmara, na próxima terça-feira, mais os boatos de que o noticiário poderá vir pesado no fim de semana deixaram os investidores em alerta. O maior medo é que surjam novas revelações do deputado, que tem enviado recados ameaçadores por intermédio de outros parlamentares do PTB. Jefferson teria fitas gravadas com conversas comprometedoras com outros deputados e integrantes do governo. "O mercado está tomado pela incerteza, porque ninguém sabe muito bem onde vão parar essas acusações", diz Tomas Malaga, economista-chefe do Banco Itaú.

Uma das especulações que corria no mercado era sobre uma reforma ministerial de emergência, que poria o ministro Antonio Palocci na Casa Civil, José Dirceu na pasta da Saúde e Murilo Portugal, o secretário-executivo da Fazenda, no comando desse ministério. Seriam trocados também os integrantes do governo tidos como "problemáticos": Henrique Meirelles, presidente do BC, e Romero Jucá, ministro da Previdência. Para o BC, haveria uma solução "doméstica", com algum dos diretores assumindo a presidência.