Título: Bush cobra Putin sobre democracia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Internacional, p. A8

Embora em tom cordial, encontro dos dois presidentes em Moscou é marcado pela preocupação sobre a liberdade na Europa

MOSCOU - Na véspera da celebração russa do fim da 2.ª Guerra Mundial, o presidente dos EUA, George W. Bush, desembarcou ontem em Moscou se mostrando animado a trabalhar em conjunto com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para resolver "grandes problemas". Os dois aparentavam manter um encontro caloroso, mas assessores de Bush disseram que ele pressionou Putin sobre a democracia na Rússia. A Casa Branca tem criticado a centralização de poder no país e o controle do Kremlin sobre os meios de comunicação locais.

Putin recebeu Bush em sua dacha (residência de campo) em Novo Ogarevo, região florestal a 40 quilômetros de Moscou, e convidou o americano a dar uma voltinha em seu Volga sedan, um carro de fabricação russa, de 1956. "Tenham cuidado", brincou Bush com os jornalistas. "Ele está me dando uma lição de direção." Com Bush no volante, os dois deram uma pequena volta na área.

O clima foi de camaradagem, apesar de durante a semana os dois terem feito críticas um ao outro. Durante visita à Letônia, no sábado, Bush disse que pediria a Putin que admitisse a ocupação soviética dos países bálticos. Já Putin declarou na semana passada à TV americana CBS que os EUA não são modelo de democracia porque uma eleição foi decidida na Justiça e o vencedor não foi o candidato mais votado nas urnas (referência à primeira eleição de Bush).

Bush agradeceu a Putin por sua "ajuda no Irã e no Oriente Médio" e enfatizou que há muita coisa que podem fazer juntos. Quanto a Putin, apenas disse que esperava conversar com Bush sobre a situação atual no Oriente Médio e questões relacionadas com energia e segurança. Mas, depois, os dois líderes ignoraram as perguntas dos repórteres e entraram na casa para as conversações.

Segundo a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, a reunião foi suave. "Eu caracterizaria o relacionamento como totalmente franco. Eles falam o que pensam, dizem o que querem dizer e atuam de acordo com isso", resumiu Condoleezza, acrescentando que eles também falaram sobre reformas internas na Rússia, Oriente Médio e terrorismo. "Não há temas proibidos", complementou o chanceler russo.

As ruas de Moscou estão decoradas com milhares de lâmpadas e bandeiras coloridas e ontem veteranos da guerra marcharam pela capital, antecipando a grande comemoração de hoje do fim do conflito, chamado no país de a Grande Guerra Patriótica.

Putin receberá 53 chefes de Estado e de governo na parada militar na Praça Vermelha e numa recepção no Kremlin. Mais de 4 mil veteranos da Rússia e de ex-repúblicas soviéticas foram convidados a se unir aos líderes mundiais na praça, que será fechada ao público durante a parada.

O governo armou um rigoroso esquema de segurança para evitar atentados terroristas. Os militares receberam instruções de derrubar qualquer avião que entrar no espaço aéreo de Moscou, que estará fechado. O acesso aos aeroportos da capital foi restringido.

Como o dia do fim da 2.ª Guerra é o principal feriado russo, nos dois últimos anos extremistas chechenos desfecharam atentados com bombas na Chechênia e na vizinha república do Daguestão, matando dezenas de pessoas. No ataque do ano passado, em Grozny, mataram o presidente checheno pró-russo Akhamad Kadyrov, durante a parada militar.