Título: Italianos decidem sobre reprodução assistida
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Vida&, p. A15

Os italianos começaram ontem a votar no plebiscito que vai decidir se serão revogados os aspectos mais polêmicos da lei de fecundação assistida, aprovada pelo Parlamento e considerada a mais restritiva da Europa por vetar a pesquisa com células-tronco e equiparar os direitos do embrião aos do bebê. A consulta só terá o resultado validado caso supere o quórum da metade mais um dos 50 milhões de eleitores.

Até as 22 horas (17 horas em Brasília) - quando a votação do primeiro dia foi encerrada - já tinham ido às urnas 18% dos eleitores, segundo dados oficiais divulgados pelo Ministério do Interior.

A abstenção, que fez fracassar os últimos cinco plebiscitos realizados na Itália, marca a votação que voltou a pôr frente a frente católicos e laicos, como aconteceu com o aborto e o divórcio. Do lado dos católicos se situou de forma muito ativa a hierarquia eclesiástica, encabeçada pelo presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Camilo Ruini, que pediu abertamente aos eleitores que não votassem.

O papa Bento XVI somou-se de forma direta ao pedido, mas durante a reza de ontem do ângelus não fez nenhuma alusão a ela, como temiam os organizadores do plebiscito, convocado com 4 milhões de assinaturas.

Os colégios eleitorais abriram das 10 às 22 horas (5 e 17 horas em Brasília). Hoje, os eleitores poderão votar entre 7 e 15 horas (2 e 8 horas em Brasília).

Os eleitores têm de depositar nas urnas quatro cédulas correspondentes aos pontos da lei que a Corte Suprema decidiu que podiam ser submetidos a plebiscito.

Esses capítulos se referem à proibição da pesquisa com células-tronco e ao congelamento de embriões; ao veto ao uso de sêmen e óvulos alheios ao casal (fecundação heteróloga); ao acesso à fecundação assistida apenas a casais estéreis; e à equiparação dos direitos do embrião com os da pessoa nascida.

O último item deu origem a um debate paralelo, já que muitas pessoas alegam que deixa uma porta aberta para a revisão da lei do aborto.

Sem especificar em que votaram, já passaram pelas urnas o presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi, e o líder da oposição, Romano Prodi. Quem não deve votar é o primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, de acordo com a posição da coalizão governamental, que aprovou com seus votos, e os de alguns católicos da centro-esquerda, a lei de fecundação assistida.

Uma exceção na maioria conservadora foi a do ministro de Assuntos Exteriores e líder de Aliança Nacional, Gianfranco Fini, que decidiu votar três "sim" e um "não" à fecundação heteróloga.

ÂNGELUS

Antes da reza do ângelus, o papa Bento XVI anunciou que em outubro se reunirá com milhares de crianças que neste ano receberam em Roma a primeira comunhão, para exaltar a importância da Eucaristia no ano dedicado a ela. O papa lembrou que a Eucaristia está vinculada à participação familiar e comunitária na missa.