Título: Crédito a aposentados sai mais caro
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Economia, p. B1

Grandes bancos privados cobram juros mensais acima de 2,8%, superando o limite recomendado pelas centrais sindicais nos empréstimos concedidos a aposentados e vinculados ao pagamento do benefício da Previdência Social. Dados do Ministério da Previdência Social mostram que desde setembro de 2004 até o início deste mês mais de 3 milhões de aposentados e pensionistas recorreram ao empréstimo consignado. Com isso foram despejados na economia R$ 6,8 bilhões. Também o custo financeiro efetivo embutido nesses empréstimos, que inclui a Taxa de Abertura do Crediário (TAC) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), além dos juros, é maior do que a taxa anunciada pelas instituições financeiras. Neste caso, até nos financiamentos a aposentados concedidos pelos bancos oficiais, onde os juros são menores do que 2,8% ao mês, o custo efetivo desses empréstimos supera o limite recomendado pelas centrais.

A Força Sindical lançou na semana passada uma campanha publicitária de rádio e TV em São Paulo, Rio, Minas, Pernambuco e Distrito Federal para alertar os aposentados. A orientação é que o pensionista não aceite um custo efetivo do empréstimo, já com juros, TAC e IOF, acima de 2,8% ao mês. "É uma exploração. Tem banco cobrando até 6% ao mês", diz o presidente da Força Sin dical, Paulo Pereira da Silva.

Ele observa que o custo de 2,8% ao mês, já incluindo juros e outros encargos, é um porcentual considerado razoável e, por isso, é defendido pela Força Sindical. O Ministério da Previdência informa, por meio de sua assessoria, que não há limites fixados para os juros, mas que, na prática, as taxas variam entre 1,5% e 3,9% ao mês para essa modalidade de empréstimo.

Uma simulação de um empréstimo a aposentado de R$ 2 mil, parcelado em 24 vezes, feita pelo Estado na última quinta-feira nas agências de grandes bancos localizadas na rua Boa Vista, no centro de São Paulo, constatou que dois bancos privados, o Bradesco e o Unibanco, anunciam taxas de juros superiores a 2,8% ao mês para aposentados. No Bradesco, os juros anunciados são de 3,99% ao mês e no Unibanco de 3,7%.

O Bradesco esclarece, por meio de sua assessoria, que a instituição não tem linha de crédito consignado a aposentados, isto é, cujo desconto é feito diretamente na folha de pagamento da Previdência. Na prática, o banco tem uma linha de crédito pessoal só para aposentados que segue as taxas de mercado.

O Unibanco informa que reduziu, a partir de sexta-feira, os juros máximos do crédito consignado a aposentados de 3,7% para 3,48% ao mês.

De acordo com a simulação, os bancos oficiais, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, cobram juros inferiores a 2,8% ao mês. No caso do Banco do Brasil, a taxa mensal é de 2,2% e na Caixa, de 2,5% para a simulação do empréstimo.

Se forem considerados, no entanto, os encargos financeiros efetivos, que incluem juros, TAC e IOF, as taxas cobradas pelos quatro grandes bancos superam 2,8%, segundo cálculos do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Para um empréstimo de R$ 2 mil, a taxa efetiva do empréstimo no Bradesco é de 4,36% ao mês, ante os juros de 3,99% anunciados. No caso do Unibanco, a taxa efetiva é de 4,46%, enquanto a anunciada é de 3,7% ao mês. Na Caixa, o custo efetivo é de 3,26%, ante os juros mensais de 2,5% informados. No Banco do Brasil, a diferença é a menor. O custo efetivo desse empréstimo é de 2,31% ao mês, ante 2,2% da taxa informada.

"Temos as menores taxas do mercado", diz o vice-presidente de varejo do Banco do Brasil, Edson Monteiro. Ele explica que a regra do mercado é informar a taxa de juros nominal. A taxa efetiva do custo do financiamento não pode ser anunciada de forma generalizada porque ela depende de cada empréstimo, isto é, do valor e do prazo de pagamento, entre outros fatores. "Nós zelamos pela ética."

Já a assessoria de imprensa do Bradesco ressalta que os encargos com a TAC e o IOF não devem ser somados aos juros pois um deles é uma taxa e o outro um imposto. A Caixa esclarece que a divergência de taxas se deve a diferenças no prazo de pagamento da primeira parcela. A Caixa trabalha com o 1.º pagamento a partir de 60 dias da data de concessão do crédito. No exemplo, de acordo com informações do funcionário da agência da Caixa, a 1.ª parcela seria paga após 30 dias.