Título: Ameaçada ratificação do Cafta
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Economia, p. B5

Sem a garantia de que terá os 218 votos necessários para ratificar o Acordo de Livre Comércio com a América Central (Cafta), na Câmara de Representantes, o presidente George W. Bush enfrenta a partir desta semana um dos testes mais difíceis de sua administração. Além da incerteza dos votos, ainda há o risco de ver a aprovação do tratado condicionada pelo Senado a uma redução adicional de sua capacidade para negociar concessões em novos acordos de liberalização. Dois membros de seu partido, Michael Crappo, de Idaho, e Craig Thomas, de Wyoming, ambos republicanos, ameaçam juntar-se à minoria democrata e aprovar uma resolução de altíssimo custo político, em reunião da comissão de Finanças do Senado marcada para amanhã. A iniciativa eliminaria do acordo a irrisória abertura do mercado de açúcar, que os EUA ofereceram no Cafta, e proibiria o Executivo de considerar quaisquer novas concessões em tratados futuros, como a Rodada de Doha ou a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

"As pessoas envolvidas na discussão continuam achando que, no final, a administração conseguirá os votos para a ratificação, e eu tendo a concordar com isso, mas apenas porque nunca o Congresso deixou de aprovar um acordo comercial e a rejeição do Cafta seria um desastre para Bush e para os Estados Unidos", disse ao Estado o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Hakim, que é favorável ao Cafta. "Mas não me peça para explicar como eles conseguirão isso, pois não têm os votos e não é obvio que os conseguirão." A meta do governo é conseguir a aprovação do Congresso antes do recesso de 4 de julho.

A ex-secretária do Comércio Exterior da Casa Branca (USTR), Carla Hills, disse que a rejeição do Cafta deixaria a política comercial dos EUA em frangalhos. Em princípio, a aceitação do acordo não deveria ter se transformada nessa dor de cabeça. Afinal, o acordo envolve seis pequenos e pobres países da América Central e do Caribe, que não representam ameaça para a potência americana e são os que terão de abrir seus mercados sob o Cafta.

Isso porque cerca de 80% de suas exportações já entram nos EUA livres de tarifas, graças a concessões unilaterais que o acordo tornaria permanentes. No sentido oposto, o tratado prevê a abertura gradual dos mercados dos seis países para bens e serviços de empresas americanos.