Título: Embraer está atenta à ajuda governamental à Bombardier
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2005, Economia, p. B10

A rivalidade entre os dois maiores grupos aeronáuticos mundiais, Airbus e Boeing, poderá ter repercussões numa nova disputa entre as duas maiores empresas de aviação regional, a brasileira Embraer e a canadense Bombardier, segundo acredita o presidente da Embraer, Maurício Botelho, que promete acompanhar de perto o suporte financeiro que os governos do Canadá e do Reino Unido pretendem oferecer ao projeto de construção de aviões com capacidade entre 110 e 135 lugares. Botelho revelou que esse projeto está recebendo financiamento governamental de US$ 400 milhões, enquanto a Embraer, para montar o seu programa, foi buscar no mercado US$ 1 bilhão, sem um tostão de financiamento governamental. O presidente da empresa brasileira disse que não está disposto a permitir esse tipo de concorrência desleal e que utilizará os meios legais para impedir essa evolução, inclusive a própria Organização Mundial do Comércio (OMC). Maurício Botelho não parece ter dúvidas quanto a tentativa desses dois governos de subsidiar esse projeto: "Por que o governo canadense está disposto a dar todo esse dinheiro para receber, eventualmente, royalties, caso o projeto tenha êxito?", perguntou. No final, ele enviou uma mensagem de advertência ao próprio governo brasileiro: "A disputa entre Boeing e Airbus certamente deverá ser acompanhada com muito cuidado pelo Brasil, pois terá repercussões junto à sua própria indústria de aviação".

CRISE POLÍTICA

Maurício Botelho não esconde também sua preocupação com o atual clima político no Brasil - as denúncias de corrupção que se multiplicam -, convencido de que "um regime no qual as instituições são questionadas e a credibilidade posta em dúvida por práticas de gestão condenáveis, pode afetar empresas que operam a longo prazo" . Para Botelho, não há como não ser atingido, principalmente quando se trata de comércio exterior.

"Isso poderá se transformar num argumento utilizado pelos concorrentes junto a eventuais clientes, chamando atenção para o clima de insegurança política no futuro", pondera o presidente da Embraer. "Até o momento", considera Botelho, "um clima relativamente sereno vinha ajudando o comércio exterior brasileiro; nada a ver com as dúvidas que antecederam a posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva, mesmo porque a confiança havia sido resgatada". Agora, segundo ele , "crises como essa podem atingir a capacidade do nosso negócio, que é de longo prazo".