Título: Guerra interna entre integrantes do PCC já causou 29 mortes desde abril
Autor: Homéro Ferreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Metrópole, p. C1

O Primeiro Comando da Capital (PCC) vive uma guerra interna, cujos efeitos se espalharam pelas penitenciárias paulistas. O primeiro sinal dessa disputa ocorreu em 28 de abril, quando o número 2 da facção, Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, foi assassinado na Penitenciária 2 de Mirandópolis. Até ontem, a guerra interna já tinha provocado 29 mortes. A maioria das vítimas foi enforcada com cordões usado para fazer bolas de futebol. Este ano já ocorreram 33 homicídios nos presídios paulistas, número bem superior aos de 2004 (29 execuções) e 2003 (27). "Ainda não se sabe por que o PCC está guerreando. O fato é que o PCC vem perdendo espaço e está tentando se reestruturar", disse o promotor Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).

Em 30 de maio, o juiz Miguel Marques e Silva, da Vara das Execuções Criminais da Capital, e a promotora Mariângela de Souza Balduíno já tinham advertido sobre a "verdadeira anarquia no sistema penitenciário". Na ocasião, denunciaram o o uso corriqueiro de celulares, o ingresso de armas e drogas, execuções de agentes e presos.

O coordenador estadual do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, disse que o confronto de ontem era esperado. "Apesar da desativação do Carandiru e da construção de penitenciárias, a corrupção é grande e permite que as facções comandem a maioria dos presídios."

O presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Luiz Flávio Borges D'Urso, afirmou que a rebelião evidencia dois problemas, um pontual e outro institucional. O pontual refere-se à gestão das penitenciárias. "As facções devem ser enfrentadas com informações, inteligência, para isolar lideranças."

O problema institucional, segundo D'Urso, é a insuficiência do sistema para conter a criminalidade, com celas cheias que não servem para recuperar ninguém. Ele defende a aplicação de penas alternativas e o encarceramento só para crimes que ameaçam a sociedade.