Título: Com 23 presídios, região é barril de pólvora
Autor: Homéro Ferreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Metrópole, p. C1

"Onde nossas autoridades estavam com a cabeça quando concordaram com a vinda de tantos presídios?", pergunta-se o produtor rural Luiz Antonio de Barros Coelho, de Presidente Venceslau. A região tem a maior concentração de unidades prisionais do País. São 23 penitenciárias num raio de 150 quilômetros de Presidente Prudente, a principal cidade, com um total de 15 mil presos. "É um barril de pólvora, sempre pronto a explodir." Criminosos conhecidos estão na Penitenciária 2 de Venceslau, como o líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, o seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, e o ex-interno da Febem Batoré. No presídio de Presidente Bernardes estão Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e o seqüestrador chileno Maurício Norambuena, entre outros.

"Todo morador sabe que, a qualquer momento, pode acontecer uma fuga ou uma rebelião como esta", disse Coelho, referindo-se ao motim de ontem, que praticamente destruiu a Penitenciária 1 de Venceslau. "O pior é que as cidades estão próximas umas das outras. Temos penitenciárias a cada 20 quilômetros." Em algumas localidades, como Caiuá e Marabá Paulista, a lotação do presídio é quase tão numerosa quanto a população.

Coelho disse que os moradores de Venceslau já vinham reclamando do aumento na criminalidade. Desde a instalação da segunda penitenciária, no fim dos anos 90, a cidade de 35 mil habitantes perdeu o sossego. "Estávamos acostumados com a penitenciária velha, que era segura, mas aí fizeram outra."

A Penitenciária 1 , ou P1, foi inaugurada nos anos 60 e já abrigou presos políticos. Antes de ontem, os dois últimos casos de tumulto ocorreram em 1986 e de 2001. No primeiro, uma tentativa frustrada de fuga deu início a uma rebelião em que houve intervenção da Polícia Militar. Catorze presos morreram.

Em 2001, os detentos da P1 aderiram à grande rebelião promovida pelo PCC. Não houve reféns nem mortos.

Na região, há um mês, presos destruíram a Penitenciária de Presidente Prudente. Houve ainda rebeliões de menor monta no Centro de Ressocialização de Presidente Prudente e nas penitenciárias de Iepê e Martinópolis. "O governo procurou isso ao transformar a região num foco de conflitos sociais e fundiários", disse Danilo Bonfim, assessor do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado. Segundo ele, depois de atrair sem-terra de todas as partes, essa parte do oeste paulista passou a receber presidiários. "Virou um caldeirão. Quando os sem-terra acalmam, os presidiários se levantam."