Título: Rebelião. E 5 presos são decapitados
Autor: Homéro Ferreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Metrópole, p. C1

Cinco presos foram degolados ontem, na mais sangrenta rebelião em 19 anos na Penitenciária 1 (P1) de Presidente Venceslau, no oeste paulista. Os rebelados fixaram duas cabeças em hastes de ferro nas lajes do prédio e uma na torre do pára-raio, para que fossem vistas do lado de fora. E simularam jogar futebol com uma das cabeças na laje. À noite, eles mantinham reféns 11 agentes penitenciários. A rebelião começou às 8h30 e foi atribuída a uma disputa entre presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e dissidentes que se abrigaram em três facções. Uma delas é o Comando Democrático da Liberdade (CDL). As outras duas surgiram no Rio e tem presença pequena em presídios paulistas: Comando Vermelho (CV) e Amigos Dos Amigos (ADA).

Na hora em que o motim estourou, oito agentes conseguiram escapar. Um deles, que se identificou apenas como José Roberto, disse que foram executados presos que estavam "devendo para o Partido (PCC)" - a penitenciária de Venceslau é um dos berços da facção.

A Secretaria de Administração Penitenciária não confirmou a informação sobre a causa da rebelião nem boatos sobre uma sexta vítima. Também não divulgou os nomes dos mortos. Os corpos permaneciam à noite nos pavilhões dominados pelos detentos. Tropas da Polícia Militar cercavam o presídio e havia atiradores nas muralhas.

O motim começou na oficina e rapidamente os presos dominaram todos os raios do presídio, que tem 680 vagas e abrigava até a manhã de ontem 780 homens. Eles usaram estiletes artesanais e roubaram da oficina barras de ferro e ferramentas. Depois atearam fogo na maior parte da penitenciária.

Os amotinados fizeram inicialmente 14 agentes reféns. Três foram liberados até o início da noite e receberam atendimento na Santa Casa, por onde também passaram os oito agentes que escaparam da rebelião. Alguns estavam feridos, outros em estado de choque. Três presos atendidos na Santa Casa foram encaminhados à Penitenciária 2 de Venceslau.

O diretor da P1, Reginaldo Beraldo de Almeida, e o coordenador dos presídios da região oeste, Carlos Augusto Panucci, participaram das negociações com os rebelados. O problema é que as reivindicações dos presos atingem os dois diretamente. Eles exigem a mudança na gestão da penitenciária e na coordenação regional.

Atendendo a pedido dos presos, o juiz-corregedor Flávio D'Urso foi até o presídio para discutir a situação. Quando ele chegou, porém, os presos se negaram a dialogar e D'Urso anunciou, às 18 horas, a suspensão das negociações. Elas serão retomadas às 8 horas de hoje.

No começo da noite, os 80 detentos das celas do seguro, onde ficam os jurados de morte, foram transferidos para as penitenciárias de Uirapuru e Andradina. Eles eram considerados vítimas potenciais dos amotinados. Procurado pelo Estado, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse que só vai se manifestar após o fim da rebelião.