Título: IBGE mostra desaceleração nas vendas do varejo
Autor: Nilson Brandão Junior,Colaborou: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Economia, p. B4

As vendas do comércio varejista caíram 0,23% em abril ante março, já sem os efeitos sazonais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado indica desaceleração do crescimento do setor, que chegou a abril 1,1% abaixo do de dezembro. Na comparação com abril de 2004, houve avanço de 3,4% nas vendas. "É um quadro de acomodação, que vai depender de como a política monetária se comportará", avalia o economista Felipe Pinheiro, do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo ele, a expectativa é que a política de juros possa ser abrandada, já que as expectativas de inflação estão diminuindo. Para o grupo de economistas do Bradesco, a pesquisa traz "sinais de arrefecimento".

Na comparação com o mês anterior, houve recuo no movimento de segmentos diretamente ligados ao poder de compra dos salários, como supermercados, alimentos e bebidas (-0,47%) e de combustíveis e lubrificantes (-1,14%).

Segundo o economista do IBGE Reinaldo Silva Pereira, isso reflete a queda do valor real (descontada a inflação) dos rendimentos de março para abril, captado pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE.

A diarista Maria dos Santos confirma, na prática, o que mostra a pesquisa. "Está tudo subindo e o salário não sobe, não", comentou ontem, num supermercado, enquanto procurava descontos. "Eu só compro as coisas na promoção, corto o que posso", diz Maria, que conta com o marido aposentado e dois filhos para pagar as contas. "A gente paga as contas e o dinheiro acaba", reclama.

A redução do crescimento também vem sendo notada nos resultados da produção industrial, indica o economista do Ipea. Segundo ele, a política de elevação dos juros afeta o mercado de trabalho e, "por tabela", as vendas de produtos semiduráveis e não duráveis (utensílios domésticos, alimentos e bebidas).

A dona de casa Tereza Torzati Cruz já conseguiu, com muita pesquisa, reduzir os gastos de supermercado de pouco mais de R$ 300,00 para entre R$ 250,00 e R$ 280,00. "Corro todos os mercados da redondeza", comenta.

Já as vendas de móveis e eletroeletrônicos avançaram 1,06% em abril ante março e 23,93% ante abril de 2004. O técnico do IBGE explica que o crédito está ajudando. "Mesmo com os aumentos da Selic, o consumidor ainda compra a prazo", observa Pereira. Outro setor com avanço foi de vestuário e tecidos (13,72%), beneficiado pelas liquidações normais nas trocas de estação.