Título: Especialistas explicam como o tremor no Chile chegou ao Brasil
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Vida&, p. A20

O terremoto que atingiu anteontem o Chile foi sentido em diversos Estados do Brasil porque foi intenso e profundo, dizem especialistas. Com o epicentro no norte do país andino, uma onda de energia se espalhou num raio de 2.300 quilômetros. A Cordilheira dos Andes, onde ocorreu o terremoto, fica numa zona de subducção, região onde uma placa tectônica desliza por baixo de outra placa (veja quadro ao lado), explica a sismóloga Célia Fernandes, da Universidade de São Paulo (USP). "O que foi sentido no Brasil é reflexo das ondas de energia liberada pelo movimento."

O evento, ocorrido por volta das 18h45 (19h45 de Brasília), teve seu epicentro localizado cerca de 100 quilômetros ao nordeste de Iquique, ao sul da localidade de Chiapa, junto à fronteira com a Bolívia. Ele atingiu 7,9 pontos na escala Richter, que chega a 9, e ocorreu a 111 quilômetros de profundidade - distância considerada intermediária. Quanto mais profundo ocorre a fratura, mais longe seu efeito é sentido. "Se ele tivesse sido mais raso talvez não fosse percebido pelos brasileiros", afirma o sismólogo Vasile Marza, da Universidade de Brasília (UnB).

Marza explica que, no Brasil, o efeito foi leve, de 2 a 3 graus em uma escala usada para medir a sensibilidade das pessoas, a Mercalli, que atinge o pico em 12 graus. "Os brasileiros não estão acostumados com tremores, por isso o susto. No Japão ou no próprio Chile, o país mais sísmico do mundo, esse tipo de tremor não tira ninguém da normalidade." De 1922 até hoje, 44 tremores andinos foram sentidos em cidades brasileiras, segundo levantamento feito na USP.

A maioria dos relatos no Brasil vem, obviamente, de zonas mais povoadas. Habitantes de São Paulo, Paraná, Goiás e Distrito Federal, especialmente moradores de prédios altos, relatam trepidações no solo e movimento em objetos.

Na capital paulista, a estudante Thais Ruiz de Freitas, de 12 anos, assistia à televisão quando sentiu uma tontura e, em seguida, o chão balançar. Ela foi correndo chamar seu irmão e viu a porta do quarto dele tremer. "Ficamos com medo e na hora só pensamos em descer", disse a menina, que mora no 18º andar do Condomínio Milani, na Mooca, na zona leste. Ontem, uma equipe técnica da Defesa Civil municipal fez uma vistoria no prédio e edifícios de outros bairros da cidade e não encontrou estragos.

O mesmo ocorreu no interior do Estado, em municípios como Ribeirão Preto. O presidente da Comissão Municipal de Defesa Civil da cidade, Eric Cunha Junqueira, disse que cerca de 70 ligações telefônicas foram atendidas pelo órgão e pelo Corpo de Bombeiros. "Foi uma sensação horrível", disse a empresária Vera Lúcia Balthazar, que sentiu dois abalos seguidos quando estava sentada no sofá da sala, no sétimo e último andar de um condomínio no Parque Industrial Lagoinha.

Em Sumaré, próximo a Campinas, o porteiro Edmar Ferreira dos Santos assustou-se quando ouviu o portão de grade de metal de sua casa tremer segundos antes do alarme do carro disparar na garagem. "Fui na ponta do pé até a janela e só saí quando me certifiquei que não havia nenhum bandido", contou.

Em Goiânia, moradores do Edifício Rio São Francisco, no centro, acionaram os bombeiros reclamando que o prédio estava chacoalhando. O prédio chegou a ser esvaziado.