Título: 'Quartéis vão digerir a medida'
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Internacional, p. A16

Para o analista Silvio Santamarina, ex-colunista de política da revista Poder, parte dos militares não ficará contente com o julgamento de membros da velha guarda, como Alfredo Astiz, conhecido como "Anjo Loiro". Apesar disso, a maioria vai acatar quieta a decisão da Corte Suprema. Que impacto tem esta determinação nas Forças Armadas?

Publicamente, nas Forças Armadas, haverá uma divisão. Alguns setores manifestarão muito desagrado em relação à mudança jurídica. Mas, outros setores ficarão quietos, já que recordarão que devem obedecer às autoridades constitucionais... Mas estes setores também sentirão muito mal-estar. Os militares ainda não apreciam muito a democracia, embora publicamente digam o contrário.

Esta medida poderia implicar em algum lucro político para Néstor Kirchner?

Na capital do país, que Kirchner pretende seduzir, está o eleitorado progressista, hostil com os militares. Mas, também aqui está o eleitorado conservador... alguns destes não simpatizam com as Forças Armadas, mas não querem que alguém apareça e agite o cenário político.

Por isso, não está claro o custo-benefício eleitoral.

Os militares poderiam ensaiar alguma espécie de rebelião?

Ninguém prevê nada parecido. E aí existe uma divisão muito forte nas Forças Armadas. Alguns militares acham que mesmo uma situação de crise como esta não se resolve com um golpe. Outros consideram que um levante poderia ter algum efeito para deter os processos. O setor majoritário das Forças Armadas, mais jovem, cauteloso e pragmático, aceitaria digerir a detenção da velha guarda. E além disso, podem surgir muitos militares, que sem respaldo político e jurídico algum, começarão a contar tudo o que sabem, para tentar conseguir penas menores.