Título: Cara a cara, Costa Neto é acusado de receber mensalão
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Nacional, p. A5

A frieza e o autocontrole que o deputado Roberto Jefferson (PTB) exibiu ontem ao longo de todo o seu depoimento ao Conselho de Ética contrastaram com a tensão indisfarçável de líderes e liderados envolvidos nas denúncias do mensalão, inclusive petistas. Nervos à flor da pele, o líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), era o mais agitado, mascando chicletes em ritmo acelerado enquanto o suor escorria pela nuca e pela fronte. Foi justamente Costa Neto quem patrocinou o bate-boca mais nervoso com o depoente, transferindo o embate da política para o campo, no mínimo impróprio, das preferências sexuais. Desafiado a dizer os nomes dos deputados que recebiam o mensalão, o petebista foi irônico: "Eu afirmo que V. Exa. recebe. Mas tenho respeito por V. Exa., jogador, mulherengo, e até por seus gostos". Costa Neto reagiu de bate-pronto: "Prefiro gostar de mulher do que de um cidadão de Cabo Frio".

Diante da platéia atônita e dos olhos arregalados de algumas deputadas, como a tucana Zulaiê Cobra Ribeiro (SP), o próprio Jefferson tratou de desculpar o "excesso" do líder do PL. "Essa foi a matéria encomendada ao 'diário oficial' chamado revista Época, pelo governo que queria desconstituir a minha imagem. A culpa não é dele, senhor presidente; ele leu lá", disse o petebista.

Logo atrás dele, o líder do PTB, deputado José Múcio Monteiro (PE), que passara todo o tempo em silêncio, pediu a palavra. Contou ter sido procurado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, preocupado em se aproximar de Jefferson; falou do encontro que ele e o depoente tiveram com o presidente Lula para falar de mensalão e do desabafo feito à época.

"Roberto, acho que nosso partido tem mais problemas que os outros", disse Múcio, segundo seu próprio relato. E como Jefferson já havia denunciado o assédio de um partido aliado sobre deputados petebistas, tentando tirá-los do partido, Valdemar atalhou. "Alguma vez discuti com V. Exa. sobre mensalão ?", indagou o presidente do PL. "Não", respondeu Múcio sem titubear.

ROTEIRO 'BRILHANTE'

O estilo firme e teatral de Jefferson arrancou elogios de deputados do PT, da oposição e da base aliada, como Beto Albuquerque (PSB-RS). Para o tucano Jutahy Júnior (BA), Jefferson fez um roteiro brilhante, apontando quais deverão ser os primeiros convocados na CPI dos Correios, e criou ótimas chances para escapar da cassação. "Se o motivo de ter sido convocado ao Conselho de Ética foi a entrevista que deu, ele não perderá o mandato ou vai parecer que querem calá-lo."

Na avaliação geral, o petebista foi convincente e demonstrou organização e competência. Sua performance só teve rival na do líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), por ele citado como integrante do esquema do mensalão. Sem a frieza do advogado criminalista que já enfrentou 200 júris populares, Mabel foi agressivo. Exibiu mapas de votação em que PTB, PL e PP foram igualmente fiéis ao governo e defendeu a tese de que ou todos recebem mensalão para votar, ou nada é pago a ninguém.