Título: Para o Planalto, foi encenação sem provas
Autor: Vera Rosa,Tãnia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Nacional, p. A9

De olho na TV, interlocutores de Lula procuravam demonstrar tranqüilidade

A exemplo de grande parte dos gabinetes da Esplanada dos Ministérios, também no Palácio do Planalto todos os televisores estavam ligados no depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na Comissão de Ética da Câmara. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou demonstrar que não estava pautando seu dia pelo pronunciamento. Almoçou na Granja do Torto e, de lá, saiu pouco depois das 15h, quando Jefferson já estava falando e passou a cumprir sua agenda.

Ao final do dia, interlocutores do presidente tentavam demonstrar tranqüilidade em relação ao teor do depoimento, alegando que ele não apresenta provas, acrescentando que Jefferson fez uma encenação teatral, atacando sempre as mesmas pessoas, com discurso considerado repetitivo e pouco convincente.

Lula chegou ao Planalto às 15h20 e, imediatamente, iniciou uma reunião em seu gabinete com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, do Planejamento, Paulo Bernardo e da Casa Civil, José Dirceu. A pauta oficial da reunião era discussão em relação à execução do orçamento, mas o depoimento de Jefferson e as novas acusações contra o governo também foram discutidos.

Enquanto isso, cresciam os boatos em torno da saída de José Dirceu do governo. Quando a notícia chegou ao gabinete presidencial Lula ainda brincou com o ministro, embora o assunto tenha sido objeto de conversas nos últimos dias. Dirceu avisava aos interessados que não era desta vez que ele sairia.

Depois da reunião da Junta Orçamentária, Lula recebeu no gabinete o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o presidente do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz.

Apesar de tentar demonstrar absoluta tranqüilidade de um dia de rotina comum, cumprindo agenda preestabelecida, os fotógrafos não puderam registrar os encontros de Lula na tarde e noite de ontem. Abílio Diniz, ao sair do gabinete presidencial, disse que não viu a TV ligada e encontrou o presidente "muito tranqüilo e sereno, decidido a levar todas as investigações adiante, mas não falou sobre crise política". E acrescentou: "Falamos só sobre exportações".

Algumas vezes, durante o dia, o presidente conversou com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que estava em seu gabinete acompanhando o pronunciamento. Apesar de todos dizerem que estavam tranqüilos, havia uma certa preocupação com os estragos que poderiam ser provocados por Jefferson com suas veementes acusações ao governo.