Título: Malas de dinheiro saíam do Banco Rural, diz secretária
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Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Nacional, p. A12

Fernanda Karina Ramos Somaggio acusa o publicitário Marcos Valério de Souza de ordenar as retiradas

A revista IstoÉ Dinheiro começou a circular ontem com uma entrevista de Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária da agência SMP&B, em que ela relata como "malas de dinheiro" eram retiradas do Banco Rural por ordem do publicitário Marcos Valério de Souza para supostos pagamentos de propina a integrantes do governo. Marcos Valério foi apontado por Roberto Jefferson como um dos operadores do suposto esquema do mensalão comandado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

"Já vi o boy sair com o motorista para tirar R$ 1 milhão do Banco Rural. Para dividir dinheiro, entendeu? ", relata Karina, em duas entrevistas concedidas à revista - uma em setembro do ano passado e outra esta semana, depois que Jefferson vinculou o publicitário ao mensalão. Responsável pela agenda dos compromissos pessoais e profissionais do publicitário por oito meses, entre maio de 2003 e janeiro de 2004, Karina diz que presenciou, no final de 2003, o pagamento de R$ 100 mil em dinheiro vivo para o irmão do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, quando ele estava no governo Lula. O dinheiro, segundo a ex-secretária, foi entregue em uma mala.

Karina, além de relatar viagens de Delúbio ao lado de Marcos Valério a bordo de jatos do Banco Rural para fazer lobby em Brasília e conversas semanais entre o publicitário e o tesoureiro do PT, vincula o sócio da SMP&B ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. "O Dirceu e o Marcos Valério falavam diretamente", diz a ex-secretária, na entrevista.

Segundo Karina, as viagens no jato do Banco Rural feitas em conjunto por Delúbio e Marcos Valério tinham o objetivo de "blindar" José Augusto Dumont, ex-presidente do banco, morto em acidente de automóvel, nas investigações da CPI do Banestado. Delúbio e Marcos Valério, de acordo com a secretária, intermediaram encontros de Dumont com o deputado José Mentor (PT-SP), que foi relator da CPI do Banestado. Na sua entrevista, a secretária implica também Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações no governo FHC, no recebimento de pagamentos feitos pela SMP&B. "Houve um pagamento de R$ 150 mil para o Pimenta da Veiga, dividido em duas contas. Foi uma ordem para o Banco BMG mandar o depósito."

A atividade de lobby de Marcos Valério incluía encontros constantes com a cúpula do PT em hotéis de Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, financiamento de passagens aéreas para o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e festas de confraternização para Delúbio e executivos do Banco do Brasil (do qual a SMP&B detém a conta de publicidade). "Era festa só para homem."