Título: Nas ruas, depoimento divide opinião dos paulistanos
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Nacional, p. A13

O depoimento do deputado Roberto Jefferson ao Conselho de Ética da Câmara paralisou o ritmo frenético de muita gente que passava ontem pelo centro de São Paulo. As denúncias de corrupção feitas pelo parlamentar prenderam a atenção das pessoas que se aglomeraram em frente a televisores expostos nas vitrines de lojas e barracas de ambulantes. As reações ficaram divididas: parte mostrou total descrédito com o atual governo e políticos, e outra confiante em que é uma boa oportunidade para se apurar a fundo as denúncias e punir os culpados. "Eu, aos 51 anos de idade, estou estarrecido. É um momento histórico, um insider, alguém de dentro do jogo político, com declarações muito fortes", disse o engenheiro Oscar Simões, ao parar em uma barraca em frente ao Teatro Municipal. Ele ficou impressionado com os detalhes que Jefferson deu, como nomes de empresas e horários de vôo. "É a grande oportunidade de o governo passar tudo a limpo", avaliou. "Tem (Jefferson) uma performance midiática impressionante."

Performance que foi lembrada pela aposentada Teresinha Maria de Jesus, de 61 anos. "Gostava de ouvir ele falar", disse, sobre a CPI do Orçamento, em 1994, quando Jefferson chorou em seu depoimento. Em seguida saiu em defesa do presidente. "Falam que o Lula não faz nada, mas ninguém fez quando esteve lá."

O técnico agrícola Abel José da Costa considera Lula "um homem honesto, simples", que foi enganado pela cúpula do PT. Viu parte do depoimento em uma loja de eletrodomésticos e achou que o discurso de Jefferson prova que o País cresce "sem governo". "Tem de haver uma reforma política agora, ou vai ter uma forte manifestação popular."

Para o corretor de valores Humberto Furtado, Jefferson explicitou a fragilidade do governo e da democracia brasileira. "Não entendo como o presidente foi se associar a um cara (Jefferson) com esse perfil histórico, que já foi julgado antes", disse. Ele acompanhou o depoimento pelo rádio e pela televisão e demonstrou pessimismo. "Senti que o governo do Lula terminou, parecia que estava preparado e não está, esse é o ponto", disse.

Emocionada, a viúva Antônia Silveira da Cruz Braga, de 61 anos, exigiu uma limpeza na Câmara. "Esses caras que ele falou, tem de pegar e botar pra fora".