Título: Falta de provas acalma mercado financeiro
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/06/2005, Nacional, p. A13

O mercado financeiro teve ontem um dia de intensa turbulência à espera do depoimento do presidente do PTB, o deputado Roberto Jefferson (RJ), na Câmara. Mas a ausência de provas sobre as denúncias feitas nos últimos dias fez com que o humor do mercado melhorasse no decorrer do discurso. O deputado denunciou na semana passada a existência de um esquema chamado "mensalão" - uma mesada de R$ 30 mil que seria distribuída a congressistas do PP e PL pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em troca de apoio. Ontem, com a falta de novidades do deputado, que isentou o presidente Lula de envolvimento no esquema de propina, os principais mercados terminaram o dia otimistas: a Bolsa subiu, o dólar voltou a recuar e o risco país também caiu. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou o pregão com expressiva alta de 3,38%, em 25.744,2 pontos. O mercado acionário, no entanto, começou o dia estressado. Por volta das 14h, pouco antes de o deputado iniciar seu depoimento, a Bolsa paulista atingiu a mínima de 24.382,6 pontos, com queda de 2,08%.

Aos poucos, conforme Jefferson declarava não ter provas e que era apenas testemunha, o humor dos investidores foi mudando. Como na Bovespa, o dólar também inverteu o movimento e voltou a atuar em terreno negativo. No início do depoimento, a moeda americana subia 0,82%, cotada a R$ 2,469. Mas a alta do dólar não teve força e fechou em R$ 2,435, em queda de 0,57%. O risco país, que revela a confiança dos estrangeiros no Brasil, chegou a bater 422 pontos às 15h, mas recuou 1,42% em relação ao dia anterior, para 417 pontos. Os títulos da dívida externa brasileira fecharam estáveis. O Global 40 subiu 0,21%, para 118,05% do valor de face, enquanto o C-Bond manteve a cotação do dia anterior.

"Foi uma grande palhaçada", afirmou o gerente de câmbio da Corretora Souza Barros, Hideaki Iha. Segundo ele, o deputado não apresentou provas, mas todo mundo sabe que pode haver fundamentos nas denúncias. Por isso, o mercado financeiro vai acompanhar os novos acontecimentos e o andamento das investigações. Mas a tensão acabou, completou ele.

Outro ponto considerado importante pelos analistas foi o fato de o presidente Lula ter sido isentado de qualquer envolvimento nas acusações. "O mercado gostou de ver que o Lula não foi envolvido", disse um operador. Ele acrescentou, no entanto, que o mercado também veria com bons olhos o afastamento do ministro José Dirceu, da Casa Civil, que foi amplamente citado nas acusações feitas por Jefferson. "Com o Dirceu fora do ministério, o governo também ficaria fora de qualquer investigação. Preservaria o governo, mesmo que o Dirceu não tenha culpa", afirmou o operador.

De olho nas declarações de Jefferson, que hoje dará novo depoimento, desta vez fechado, à Comissão de Sindicância da Câmara, o mercado financeiro ignorou as notícias vindas do cenário externo. Ontem foi divulgado nos Estados Unidos o índice de preços ao produtor de maio, que registrou deflação e caiu 0,6% ante expectativas de 0,2%. Os índices de inflação de abril e maio são mais tranqüilizadores, mostrando arrefecimento das pressões que ficaram evidentes de maneira mais significativa nos primeiros meses do ano.