Título: Meirelles ataca tolerância com inflação e insinua novas medidas
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Economia, p. B1

Para o presidente do BC, a sociedade brasileira ainda não entendeu os prejuízos causados pela disparada dos preços

BASILÉIA - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que parte da sociedade brasileira ainda não entendeu os prejuízos trazidos pela inflação. Por isso, o custo de combate à inflação acaba ficando mais alto. Indicou, também, que novas medidas podem vir por aí, para que o combate à inflação não fique exclusivamente a cargo do Banco Central. "Estamos estudando, por instruções do presidente (Lula), tudo aquilo que a sociedade brasileira pode fazer. Há muitas coisas que já estão sendo feitas e que poderão ser anunciadas", afirmou. Ao ser questionado sobre quais seriam essas medidas, recuou: "O BC não anuncia estudo sobre medidas futuras." Meirelles está em Basiléia para participar, hoje, da reunião bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS) ao lado dos principais bancos centrais do mundo. Ele indicou que não está disposto a intervir no câmbio e insistiu em que a redução do juro somente ocorrerá quando as condições forem adequadas: "Se o juro básico caísse artificialmente, a atividade econômica cairia e subiriam a inflação e a taxa de juros de mercado. O Brasil já demonstrou, em 2004, que pode apresentar taxas de crescimento com juros altos. A taxa de juro no Brasil não é crescente sem parar. Em vez de falar de conceitos, opiniões ou desejos, em 2004 a economia cresceu 5,2% com uma taxa de juros elevada em termos internacionais. Essa é uma característica da economia brasileira."

Na semana passada, Lula afirmou que um dos erros do Planalto foi ter usado só os juros para combater a inflação, e chegou a insinuar a preparação de medidas para corrigir a situação. Ontem, Meirelles deixou escapar que elas já estariam sendo estudadas: "Concordamos com o presidente em que o combate à inflação não é um trabalho exclusivo do Banco Central. O anúncio, pelo Planalto, da imposição de tetos para as despesas públicas é um sinal importante de que vão trabalhar no sentido de favorecer o trabalho da política monetária". Na avaliação do presidente do BC, o Brasil mostrou estar amadurecendo, ao propor tal medida num ano pré-eleitoral. "Há muitas outras coisas que já estão sendo feitas e que poderão ser anunciadas". disse.

Além do teto para os gastos públicos, Meirelles acredita que outra medida que terá um impacto relevante será o choque de gestão da Previdência Social. A unificação cambial também pode ter efeitos crescentes nesse cenário. Para Meirelles, o importante é que Lula deixou claro "que o caminho não é apenas ficar se preocupando com a taxa de juro, que é um dado da realidade. Precisamos criar condições para que a inflação caia".