Título: Palocci diz que agenda positiva vai continuar
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2005, Economia, p. B3

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, assegurou ontem aos representantes do G-8 que a atual crise política não vai afetar a economia ou paralisar a agenda de reformas no Brasil. "Nos próximos meses, nós vamos superar as dificuldades políticas, que são comuns em todas as democracias, e completar uma série de reformas internas que visam a melhora do funcionamento de nossa economia, o aumento de nossa produtividade e a redução ainda maior de nossas vulnerabilidades", disse Palocci em seu discurso durante o café da manhã que reuniu ministros das finanças dos países mais ricos do mundo, além da China, Índia e África do Sul. O ministro ressaltou que o Brasil, a exemplo de outros países emergentes, avançou muito em termos institucionais e estruturais nos últimos anos. "As mudanças que ocorrem no Brasil fazem parte de um processo cumulativo de maturidade institucional", disse. "Atualmente, temos pilares ordenados e consolidados alicerçando nosso processo de crescimento sustentável: o controle da inflação, contas fiscais em ordem e contas externas sólidas".

Segundo Palocci, o governo manterá sua "ampla" agenda de reformas, que inclui mudanças tributárias, a melhora das agências regulatórias, aperfeiçoamento do sistema antitruste e do mercado de crédito, e a formalização das atividades dos microempresários.

O ministro adotou claramente um discurso mais confiante em relação ao combate à inflação no Brasil que pode ser interpretado como uma aposta de que o atual ciclo de aperto monetário chegou ao seu final. Questionado várias vezes por jornalistas sobre o tema, Palocci nunca abandonou a declaração padrão de que a decisão de interromper ou não o atual ciclo de aperto monetário está nas mãos do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá nesta semana. Mas Palocci não escondeu um tom otimista.

Ele fez questão de lembrar que os dados positivos da inflação no atacado também se expandiram para os preços no varejo. "O importante é que a política monetária deu resultado", disse.

Não faltaram elogios ao Banco Central e a seu presidente, Henrique Meirelles. Segundo Palocci, o BC mostrou estar certo ao começar a elevar os juros no segundo semestre do ano passado para conter a escalada nos preços. "Um trabalho excelente", disse. "O BC, com total autonomia, tem acertado sempre no seu comportamento em relação à política monetária".

Palocci reiterou que a crise política não afastará o investidor estrangeiro do País. "O comportamento recente da economia brasileira mostra que os fundamentos são muito mais fortes que eventuais conflitos políticos", disse. O crescimento da economia brasileira em 2005, acrescentou, vai acompanhar a tendência mundial.

Palocci insistiu que Lula não admite que haja qualquer leniência no combate à corrupção. "O presidente já deixou claro que tomará todas as medidas, não apenas circunstanciais, mas estruturais, para que o Brasil possa desfrutar cada vez mais de instrumentos capazes de combater a corrupção de maneira sistemática".

Na avaliação do ministro, a crise política na Bolívia não deverá provocar um racionamento de gás no Brasil. "Há instrumentos de infra-estrutura capazes de fazer eventuais substituições", disse. Segundo ele, a questão do gás é um problema para toda a América Latina, pois muitos países da região utilizam fontes da Bolívia.