Título: Aulas de computação ajudam a ler e a escrever
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2005, Economia, p. B12

"Temos foco no português", afirma Hozana Maria Pereira do Nascimento, diretora da Escola Santa Luzia. Para usar o computador, é preciso ler e escrever. O laboratório de internet é encarado então pelos professores como uma ferramenta para reduzir deficiências de aprendizado. "Com o sistema de aprovação automática, existem alunos na 7.ª série que não conseguem ler", diz o professor Raulindo Ramos Menezes. "E não é só aqui." Segundo o Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, 38% dos brasileiros são analfabetos funcionais. Por um lado, o problema pode ser visto como um obstáculo tão grande quanto o econômico para o acesso das pessoas à tecnologia. Por outro, como uma oportunidade de transformar o computador em ferramenta de alfabetização. É por esse caminho que vai a comunidade de Almécegas. "A deficiência de aprendizagem é muito grande", reconhece Marcos Antônio Barbosa, técnico pedagógico da Secretária de Educação de Trairi. O município busca recursos para replicar a experiência de Almécegas em mais quatro escolas.

Aos 10 anos de internet comercial, o Brasil encerrou o mês passado com 18,3 milhões de pessoas com acesso residencial à internet, de acordo com o Ibope NetRatings. Isso equivale a cerca de 10% da população. O número de usuários caiu 11% em 12 meses, mostrando que este é um problema que o mercado, por si só, não resolve. Levando-se em conta as pessoas que usam a rede mundial em outros lugares, como trabalho, escola ou centros públicos, o total de brasileiros incluídos fica em cerca de 35 milhões. O que mostra a importância de experiências como a de Almécegas.

O centro de computação da Escola Santa Luzia acaba por atender até a moradores de localidades vizinhas. Gustavo Carneiro Alves Fortes, de 15 anos, e Romildo Barbosa Ribeiro, de 17, residem em Munguba, comunidade próxima de Almécegas, e visitavam o laboratório de informática na quarta-feira. Eles chegaram de bicicleta, depois de 20 minutos pedalando. O objetivo era fazer uma pesquisa sobre o Paraná, para uma feira cultural que vai acontecer em sua escola. Ambos cursam a 2.ª série do ensino médio.

"Na minha escola tem computador, mas é muito difícil o acesso", explica Gustavo, que faz um curso livre de computação em Almécegas. Na escola dele, computador para o aluno só no sábado, e ainda tendo que disputá-lo com os professores. Em Almécegas, de terça a quinta existem horários reservados à comunidade. Romildo, que também está inscrito no curso mas ainda não o começou, acessou a internet pela primeira vez na quarta-feira. "Depois, quero fazer um curso profissionalizante", diz. "O mercado de trabalho exige conhecer o computador."

O projeto da Escola Santa Luzia faz parte do Programa Telemar Educação, criado pela operadora de telecomunicações em 2000. Participam dele 67 escolas públicas localizadas em áreas com os menores índices de desenvolvimento humano dos 16 Estados em que a Telemar tem concessão.

Além do centro de informática, Almécegas recebeu da Telemar três estantes de livros para começar sua biblioteca, na sala dos computadores. Ela foi batizada Prof. Raulindo Ramos Menezes. Antes dos 30 anos, Raulindo tornou-se então nome de biblioteca. "Sugeriram e todo mundo aceitou", conta o professor, com muito orgulho.