Título: Argentina retoma hoje negociação da dívida com o Fundo Monetário
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Economia, p. B4

BUENOS AIRES - Uma comitiva do governo argentino, comandada pelo secretário de Finanças, Guillermo Nielsen, viaja hoje a Washington para negociar com o Fundo Monetário Internacional um acordo de curto prazo para o refinanciamento dos próximos vencimentos. O objetivo é evitar um novo descontrole que provoque outra moratória. A Argentina tem amortizado as dívidas com o FMI apenas com os recursos próprios desde quando foi suspenso, em 2004, o acordo preventivo com o organismo multilateral. Os argentinos temem, no entanto, o esgotamento dos recursos originados no superávit fiscal. A capital americana será de agora em diante a sede das conversações entre o governo argentino e o FMI. O objetivo é evitar pressões internas ou o assédio da imprensa.

Uma fonte do governo disse que a meta argentina, ao levar a equipe econômica à mesa de negociação em Washington, é conseguir o refinanciamento de pelo menos 70% dos vencimentos de aproximadamente US$ 10 bilhões que ocorrem até 2007. A pirotecnia verbal do presidente Néstor Kirchner contra o FMI voltou a aparecer nas vésperas das negociações, ao ter afirmado que "os argentinos não são súditos do FMI. Volto a repetir ao senhor presidente do FMI, o senhor (Rodrigo) Rato, que a troca da dívida não será reaberta", disse o chefe do governo argentino.

O FMI e o G-7 pediram ao governo argentino que encontre uma maneira de compensar os investidores que permaneceram à margem na troca de dívida desde 2001. O governo completou em fevereiro passado um processo de troca que alcançou adesão de 76,15%, mas investidores rebeldes deixaram de fora títulos no valor de US$ 20 bilhões de um total de US$ 81,8 bilhões incluídos na reestruturação.

Kirchner pode abrir o Tesouro argentino para pagar a dívida com o FMI, mas até o final do ano estaria sob risco de um outro "default", o que tenta evitar. É essa a razão que está por trás do esforço do país em resolver a questão do endividamento.

Outra condição indispensável para que as conversações avancem está na esperada decisão da Corte de Apelação de Nova York sobre um pedido de embargo de US$ 7 bilhões em bônus da dívida. Os chamados fundos "abutres" fizeram o país recorrer a uma estratégia de tudo ou nada para recuperar até 100% do valor de bônus comprados quando seu preço havia caído.