Título: Até Travolta no lobby do híbrido
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Economia, p. B5

Filme marca primeira campanha dos novos carros nos EUA

Em cartaz desde o mês passado, o filme "Be Cool - O outro nome do jogo" faz aberta campanha em favor dos carros híbridos. Logo nas primeiras cenas, o personagem central, o ator John Travolta, precisa substituir seu Cadillac atingido por vários tiros e pede à locadora outro modelo clássico. Mas é surpreendido com a entrega de um Insight, compacto da Honda movido a energia elétrica. Ao questionar sobre seu pedido, o rapaz da locadora justifica: "Esse é o Cadillac dos híbridos." Em uma seqüencia na comédia, Travolta repreende um produtor musical por circular com uma picape Hummer, que consome muita gasolina. Em outra, ele chega a uma boate e o amigo pergunta: "É esse seu carro?", em tom de deboche. "Sim, é o Cadillac dos híbridos", responde ele. "Mas e a velocidade?", questiona o amigo. "Se você é importante, as pessoas vão esperar."

Embora os veículos híbridos tenham chegado ao mercado americano há quase dez anos, essa é a primeira campanha promocional de grande escala na mídia. No ano passado, foram vendidos 100 mil carros híbridos nos EUA. Este ano, a projeção é de dobrar o volume, ainda assim insignificante para um mercado de 16 milhões de veículos.

Os modelos disponíveis da Honda (Accord, Civic e Insight), da Chevrolet (Silverado), da Ford (Escape), da Toyota (Highlander, Lexus RX e Prius) custam entre US$ 1,5 mil e US$ 4,5 mil a mais que os convencionais, por causa do motor adicional elétrico e da bateria. São menos poluentes e mais econômicos que os modelos só a gasolina ou diesel. No consumo combinado, o Prius, por exemplo, roda 23 quilômetros com um litro de gasolina. Enquanto a velocidade ficar abaixo de 100 km/hora, o modelo usará energia elétrica. A Toyota do Brasil chegou a pensar em importar o veículo, mas logo desistiu. O Prius chegaria ao País por mais de R$ 60 mil e a rede de revendedores não tem estrutura para manutenção.

Já em termos de abastecimento, não haveria problemas. De acordo com testes feitos pela Petrobrás, a gasolina brasileira atende especificações para abastecer os modelos híbridos. Mas, por ter adicional de 25% de álcool e mais enxofre que a gasolina de outros países, o carro importado apresentaria consumo e emissões acima dos registrados nos Estados Unidos.

"Com a nossa gasolina, o consumo e a emissão de gases ficariam 10% acima em relação ao desempenho nos países de origem", diz Tadeu Cordeiro de Melo, coordenador do Laboratório de Ensaios Veiculares da Petrobrás. Ainda assim, a economia em relação aos carros a gasolina ou álcool é maior e a emissão de poluentes ficaria abaixo dos limites estabelecidos pela legislação brasileira. O próximo passo da Petrobrás é testar carros a hidrogênio.

Os brasileiros, no entanto, vão demorar para ver carros híbridos nas ruas. "É uma solução adequada para equacionar a emissão e o consumo, mas enquanto não tiver escala industrial de produção, o preço será inviável", afirma o presidente da Associação dos Engenheiros Automotivos (AEA), Marco Saltini.