Título: Indústria gráfica brasileira busca saídas na exportação
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Negócios, p. B10

A partir do mês que vem, a Gráficos Burti começa a imprimir material publicitário para empresas americanas

Comparado com outros países como Chile, Espanha e Itália, o Brasil ainda engatinha na exportação de produtos gráficos. A Gráficos Burti, uma das maiores indústrias gráficas brasileiras, decidiu apostar na contramão dessa tendência e foi buscar no exterior a solução para a ociosidade de suas máquinas. A partir do mês que vem, a Burti imprimirá material publicitário para empresas e agências americanas que costumavam mandar suas encomendas para gráficas da Ásia. Ao todo, serão impressos 1,2 milhão de folhetos em seis cores, uma operação estimada em US$ 1,5 milhão. Por cláusula contratual, a Burti mantém em sigilo o nome do cliente. Informa apenas que se trata de uma das grandes empresas gráficas americanas, associada a uma agência de publicidade.

Os folhetos serão usados para promoção de automóveis de luxo em concessionárias e por meio de mala direta. "Desde que o mercado publicitário brasileiro começou a focar em televisão, a área de anúncios e publicidade gráfica perdeu muito espaço", diz Luis Carlos Burti, dono da empresa. "Fornecer para clientes do exterior é uma saída para esse problema."

Os folhetos americanos da Burti praticamente inaugurarão uma impressora com duas baterias de rotativas de seis cores, instalada na sede da empresa há cinco anos. Na época, US$ 5 milhões foram investidos para trazer essa máquina para o Brasil. Apesar do investimento pesado, nunca foi utilizada. "O mercado brasileiro de impressos diminuiu muito. No caso de impressões sofisticadas então, isso quase acabou", diz o empresário. Há duas semanas, a Gráfica Takano, uma das maiores da América Latina, fechou as portas sem maiores explicações, espremida por pedidos de falência e dívidas trabalhistas.

AJUSTE

O mercado gráfico tem passado por um profundo ajuste. Nos últimos anos, as empresas renovaram equipamentos e ampliaram unidades, mas a demanda encolheu. A concentração cada vez maior de anúncios em televisão, que responde por mais da metade do total da mídia publicitária brasileira, tem dificultado bastante a vida das gráficas.

"O que acontece hoje é que muitas empresas adotam estratégias suicidas para atender um mercado que pressiona os preços cada vez mais para baixo", diz Burti. Entre essas estratégias está, por exemplo, a utilização irregular de papel isento de imposto - destinado à impressão de jornais, revistas, livros e periódicos - para a produção de peças comerciais.

Pela legislação brasileira, esses anúncios, catálogos e peças publicitárias devem ser impressos com papel sobre o qual incidem impostos. Essa prática irregular permite que as gráficas que a praticam reduzam em até 24% os preços. O problema é tão grave que a nova diretoria da Associação Brasileira de Indústria Gráfica (Abigraf), recém-eleita, o considera uma prioridade para o setor.

As indústrias gráficas brasileiras registraram um faturamento de R$ 16 bilhões no ano passado, um crescimento de 15% em relação a 2003. Os setores que apresentaram melhor desempenho em faturamento foram os de artigos de papelaria, com 23% do total, embalagem, com 19%, e formulários, com 17%. Os impressos editoriais, promocionais e comerciais ficaram em último lugar, com 13%.