Título: Crise ameaça projeto petista para Goiás
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2005, Nacional, p. A7

Além de serem aliados do mesmo governo no plano federal e estarem envolvidos por situações delicadas, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, têm algo mais em comum: fazem política em Goiás. Isso faz com que a definição do quadro eleitoral no Estado para 2006 dependa dramaticamente do desfecho das histórias desses dois personagens, ora sob inclemente tiroteio. Se não conseguirem provar que são inocentes, eles serão obrigados a descartar o tão acalentado projeto político para 2006. Por ele, Meirelles seria um forte candidato ao governo estadual e Delúbio puxaria a legenda do PT nas eleições para deputado federal.

A estratégia previa promover uma aliança estadual dos partidos que compõem a base aliada do governo Lula, para construir uma candidatura ampla ao governo estadual. Henrique Meirelles seria o candidato ideal, mas o presidente do Banco Central tem confidenciado a amigos que se for demitido não terá condições morais para enfrentar uma eleição de governador em 2006.

Seus aliados políticos alegam que ainda é cedo para jogar a toalha. Apesar de distante do cotidiano político, Meirelles tem hoje o apoio de 25 dos 41 deputados estaduais. Sua influência foi decisiva na eleição do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Samuel Almeida, do PSDB.

Um paradoxo goiano é que a base de sustentação do governo Marconi Perillo (PSDB) conta com os mesmos partidos da base aliada de Lula, com exceção do PMDB, que é forte no Estado e opera para ter candidato próprio. Pela estratégia de Delúbio, Meirelles teria o apoio de Perillo, com quem tem boas relações, e mais PSB, PL e PTB, além de parte significativa do PT goiano.

Delúbio desponta como peça-chave nessas articulações, por conta do trânsito livre que tem no Palácio do Planalto. Seu grupo político em Goiás não faz restrições a Meirelles, mas políticos mais à esquerda do PT ainda torcem o nariz para o presidente do BC.

Do outro lado do espectro político, no PSDB de Perillo (que deve disputar o Senado), a situação é mais delicada. Os tucanos não têm um candidato com densidade eleitoral. Uma ala é simpática ao vice-governador Alcides Rodrigues, mais conhecido como Cidinho. Só que ele é filiado ao PP.

PODEROSO

Delúbio aproveitou sua inserção no PT e no governo Lula para projetar uma aura de poder em Goiás. Mesmo morando em São Paulo há quase duas décadas, ele nunca se desligou do Estado. Mantém forte influência no PT estadual e no aparelho sindical, sobretudo com os professores da rede pública, onde iniciou a militância política nos anos 80.

Mal chega a Goiás, pega o carro e vai cumprir um roteiro de visitas a prefeitos, a para oferecer-lhes ajuda. Acumula mais capital político comandando as indicações para cargos federais no Estado e distribuindo agrados a seus aliados políticos. Foi pelas mãos de Delúbio que o governador Marconi Perillo passou a ter tratamento vip no Palácio do Planalto.

Mas todo esse trabalho pode cair por terra se a inocência de Delúbio não for atestada. Depois das denúncias, ele deixou de ser unanimidade até dentro do PT, porque todos sabem que ele, agora, corre contra o relógio.