Título: Astros nem sempre ajudam a farda
Autor: Johanna Neuman
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/06/2005, Internacional, p. A16

De Clark Gable a Ronald Reagan, Humphrey Bogart e Joe Louis, o Exército americano tem uma longa história de levar celebridades para suas fileiras, normalmente com resultados felizes. James Stewart, além de tudo, se alistou logo depois de Pearl Harbor e seguiu voando em 20 missões de combate como comandante na 2.ª Guerra. Mas documentos divulgados na terça-feira pelos Arquivos Nacionais sugerem que às vezes as Forças Armadas devem ter se perguntado se os nomes famosos valiam tantos problemas - Elvis Presley, por exemplo, Steve McQueen ou o Flautista de Hammelin da geração beat, Jack Kerouac.

Quando Elvis se alistou em 1957, no auge de sua popularidade, uma tempestade de cartas varreu Washington. Fãs como Lawrence Grickson e sua mulher pediram à primeira-dama Mamie Eisenhower que o Exército fizesse Elvis voltar para os palcos.

"Os cinemas precisam dele para ajudar a ocupar os muitos assentos vazios nesses dias de televisão", escreveram os Gricksons, da Califórnia. "A senhora sabe também que Elvis paga US$ 500 mil de imposto de renda? Achamos que os grandes valores que ele paga podem ajudar mais no esforço de defesa do que sua estadia no Exército." Depois, houve o furor público despertado pela colunista de fofocas Dorothy Kilgallen, que relatou que Elvis, que deveria ser desligado em março de 1960, poderia receber um desligamento antecipado por "bom comportamento". Isso acabou levando a uma nova enxurrada de cartas para os congressistas de pessoas cujos filhos também estavam servindo o Exército.

"Meu filho também tem um emprego esperando por ele, claro, não tão importante quanto o de Elvis", escreveu Rose Phelan, de Illinois. "Tenho certeza de que nós, os pobres, podemos passar sem sua música até que ele sirva seu país como meu filho." Os congressistas que investigaram a denúncia receberam uma resposta dura do Pentágono: não havia nada parecido com desligamento por bom comportamento porque, como escreveu em uma carta o general R.V. Lee: "Bom comportamento é o que se espera de todos os homens no Exército."

Por mais que o Exército tentasse agir como se Elvis fosse apenas mais um soldado, isso nunca deu muito certo. Seu biógrafo, Peter Guralnick, relatou que enquanto o soldado Presley estava servindo na Alemanha, ele vivia em um hotel de luxo cercado por seu entourage.

Os registros estão entre 1,2 milhão de documentos pessoais militares que os arquivos receberam recentemente do Pentágono e vão ser abertos ao público no Centro Nacional de Registro Pessoal, em St. Louis, começando na próxima semana. A maior parte diz respeito a pessoal da Marinha e dos Fuzileiros Navais que serviu entre 1885 e 1939. Mas há também documentos sobre 150 celebridades que estão mortas há pelo menos dez anos - políticos, artistas, atletas e outros que os arquivos descrevem como "pessoas de excepcional proeminência". "Muitas pessoas reconhecem a relevância das informações nas quais historiadores e genealogistas podem estar interessados", disse Bryan McGraw, diretor dos arquivos de St. Louis, abertos ontem.

A coleção militar, acondicionada em cinco andares, é composta de 45 mil metros cúbicos de material que McGraw disse cobrir 15 estádios de futebol. Enquanto mais recordes se tornam públicos - o Pentágono divulga os documentos 62 anos depois que os soldados se desligam do Exército - os arquivos planejam abri-los para inspeção pública, McGraw disse: uma parte em 2009, outra parte em 2022 e depois todos os anos.

McGraw disse que era muito caro digitalizar todos os arquivos, então os arquivistas estão procurando meios de fazer uma distinção entre os documentos de pessoal militar e os registros dos VIPs - como Elvis - cujo serviço é de grande interesse público.