Título: Depoimento de Jefferson hoje deve ser só aperitivo
Autor: Carlos Marchi, Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Nacional, p. A5

O depoimento que o deputado Roberto Jefferson prestará hoje, dia em que completa 52 anos, ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara será apenas "um aperitivo" do que ele sabe, assegurou ontem um petebista de renome. "O show", ou seja, a revelação de segredos mais relevantes, Jefferson guardará para sua aparição na CPI dos Correios, que, aí sim, "será espetacular". Partidários do deputado contaram ontem que o PT e o governo tentaram, de muitas formas, isolar Jefferson do PTB, com o objetivo de forçar a sua saída da presidência do partido, desconstruir a sua imagem e desqualificar as suas denúncias. Para seu público interno, Jefferson tem executado uma estratégia que, na avaliação de seus partidários, deu-lhe uma blindagem razoável e respaldo para continuar à frente do PTB.

Após duas semanas de isolamento, o cronograma que ele montou para sua estratégia tem sido cumprido com êxito, dizem seus partidários. Na mesma data em que foi publicada sua primeira entrevista, ele convocou uma reunião do Diretório Nacional do PTB - o único foro que legalmente pode votar o seu afastamento - para dez dias depois, o que mostra que ele se sentia seguro para atravessar o tiroteio inicial e suportar as pressões internas para sair da presidência.

A reunião do Diretório acontecerá na manhã de sexta-feira, dia 17, no Hotel Nacional, em Brasília. Pelo cronograma de Jefferson, depois das duas entrevistas bombásticas, ele irá hoje ao Conselho de Ética, revelando um pouco mais do que sabe e construindo o clima conveniente para receber apoio formal do Diretório do partido.

No começo, uma parte do PTB se mostrou sensível à investida do PT e do governo, balançando na adesão ao "fora Jefferson". A investida governista não resistiu a alguns "recados" que Jefferson "plantou" nas entrevistas que deu, ao argumento de que "preservar o partido é preservar Jefferson" e ao apoio decisivo da seção paulista - com seus quase 100 prefeitos, 9 deputados federais, 10 estaduais e perto de 1 mil vereadores.

Presidido por Ricardo Izar (PTB-SP), o Conselho de Ética não tem prazo para votar o parecer que será feito pelo deputado Jairo Carneiro (PFL-BA). Uma eventual cassação impediria o parlamentar de disputar eleições até 2015. O conselho tem 15 titulares (10 da base aliada e 5 da oposição). Depois de Jefferson deverão depor os ministros Ciro Gomes (Integração) e Aldo Rebelo (Coordenação Política). Amanhã, Jefferson depõe na comissão de sindicância da Câmara que investiga denúncias sobre o esquema do mensalão.

As agências DNA Propaganda e SMP&B informaram ontem que o engenheiro Marcos Valério Fernandes de Souza, mencionado por Jefferson como operador do esquema, é acionista das empresas, mas não tem vínculos administrativos com elas. Valério ontem protocolou notificação contra Jefferson no Supremo Tribunal Federal.