Título: Tucana confirma que recebeu oferta de mensalão
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Nacional, p. A6

A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) admitiu ontem, em Paris, ter sido convidada, dentro do esquema do "mensalão", a deixar seu partido e entrar em outro da base aliada do governo, em troca de um pagamento mensal. Indagada sobre o valor dessa mesada - se seriam R$ 30 mil, como se divulgou - reagiu de forma lacônica: "Não nego nem confirmo." Revelou ainda que lhe foram oferecidas condições "especiais e privilegiadas" no novo partido, cujo nome não mencionou, e prometeu: "Se convocada (para depor em uma CPI sobre o assunto), irei com todo prazer." O assédio à deputada goiana foi revelado na semana passada pelo Estado. A deputada goiana está licenciada do cargo desde janeiro, quando assumiu a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás, a convite do governador Marconi Perillo. Ela está na capital francesa a convite do governo goiano, que trouxe uma comitiva de 60 pessoas para participar do "Ano de Goiás na França" e falou com a imprensa depois de um ato no Museu do Ar e do Espaço, na Feira de Le Bourget, que marcou os 100 anos do vôo, pelos céus de Paris, do 14-Bis de Santos Dumont.

A senhora foi procurada por algum outro político e recebeu um convite para mudar de partido?

Sim, fui convidada a mudar.

As condições para essa mudança incluíam a oferta de dinheiro?

Sim, também dinheiro.

Foi divulgado, no Brasil, que a quantia oferecida era de R$ 30 mil por mês, mais um bônus anual de R$ 1 milhão. É verdade?

Não nego nem confirmo.

A senhora chegou a ser contatada por pessoas próximas ao governo?

Prefiro não entrar nisso.

Qual foi o deputado que fez o contato com a senhora e o convite?

Um deputado da base aliada do governo.

O deputado Sandro Mabel já falou a respeito do episódio e admitiu tê-la procurado. Foi ele que apresentou a proposta?

Parece que ele declarou isso lá em Goiânia. Li nos jornais.

Como a sra. reagiu ao convite?

Fiquei surpresa, estou no meu primeiro mandato. Meu compromisso com a verdade me levou a revelar a existência do convite ao governador Perillo, meu orientador político. Não quero ir mais adiante nesse assunto. Todo mundo que falou até agora em meu nome se manifestou indevidamente.

Como se sente nesse episódio?

Admito estar um pouco receosa com a evolução do caso. Ainda não consultei nenhum advogado para me defender, se for necessário.

A sra. falaria sobre o assunto em uma CPI?

Irei com todo o prazer. Até porque lá existe uma situação diferente, de proteção jurídica sobre tudo que poderei falar, sem que precise apresentar provas.

Em que termos a senhora foi abordada para deixar o PSDB?

Foi um convite revestido de muito prestígio. Eu teria uma função muito importante no setor da educação, restaurando a imagem desse outro partido. Teria a incumbência de dar um perfil diferente. Em nenhum momento houve coação.

Na conversa a pessoa que fez o contato falou em nome do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ou citou o nome do chefe da Casa Civil, José Dirceu?

Nem um nem outro, em nenhum momento.