Título: Morre o 'último stalinista do Ocidente'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Internacional, p. A13

LISBOA - Álvaro Cunhal, líder histórico do Partido Comunista Português, morreu ontem aos 91 anos. Ele mantinha ainda grande influência sobre a agremiação sem renunciar aos ideais que o fizeram merecedor do título de "último stalinista do Ocidente". O primeiro-ministro José Sócrates decretou luto oficial. "Cunhal teve durante a ditadura salazarista e depois da instauração da democracia um papel que a história reconhecerá", disse ele.

Cunhal ingressou no PCP aos 17 anos e deixou sua direção em 1992. Em meados da década de 30, como líder da Juventude Comunista, dirigiu-se à Espanha para colaborar com os republicanos na luta contra os Exércitos de Francisco Franco. Ao regressar a Portugal, reorganizou o PC, tendo sido preso em 1949 por ordem do ditador Antonio de Oliveira Salazar e condenado a 20 anos de prisão. Onze anos depois conseguiu fugir do presídio com a ajuda de comunistas espanhóis.

No exílio, Cunhal elegeu-se secretário-geral do PC. Desempenhou essa função com períodos alternados em Moscou e Paris. Regressou a Lisboa cinco dias depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. Em maio desse ano, foi nomeado ministro de Estado do governo provisório, cargo que ocupou até julho de 1975.

Catorze anos depois, ele receberia em Moscou a Ordem de Lenin, a maior condecoração da antiga União Soviética. Com a derrocada do comunismo na URSS e nos países do Leste Europeu no final de 1989, o líder comunista português passou a ser criticado por seu "imobilismo". Mas ele manteve-se firme em seus ideais insistindo em dizer que o futuro da humanidade estava no comunismo e no socialismo.