Título: Aun se alia aos sírios na volta ao Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Internacional, p. A11

PARIS - A terceira etapa das eleições libanesas, no Vale do Bekaa e nas montanhas, se desenrolou no domingo. Enquanto os dois primeiros escrutínios foram calmos, mornos, o de domingo desencadeou paixões. O general Aun as conduziu com participação em massa. Essa paixão se explica por duas razões. Primeiro porque o Vale do Bekaa e as montanhas escolhem 58 deputados dos 128 que formam o Parlamento. Segundo porque a eleição do último domingo era incerta. Na verdade, os cristãos, que eram numerosos, são divididos em quatro facções. E para piorar, acaba de voltar ao Líbano, de onde havia sido expulso em 1990, o general Aun.

Viu-se, novamente, a briga entre as poderosas famílias e os clãs que disputam o Líbano entre si. No domingo, algumas dessas famílias comeram poeira: foi o caso, entre outros, de Walid Jumblatt, que foi derrotado pelo general Aun, que tem orientação populista e também representa um clã, o do Exército.

Os programas políticos não contam nada para esse soldado de tradição bonapartista. Na verdade, enquanto, na época em que foi primeiro-ministro (1988-1990), ele dirigiu a "guerra da libertação contra a Síria", este ano, ele não se furtou em se aliar aos sírios. Ele quebrou, assim, a frágil "frente anti-Síria" que se instalou no Palácio dos Mártires, em Beirute, no dia 14 de março.

Há quinze dias, o jornalista Samir Kassir foi assassinado. Em um de seus últimos artigos, ele denunciou "a vontade do general Aun de dançar ao som da própria música, denegrir a oposição (anti-Síria) e passar em silêncio as responsabilidades do Exército onde ele mesmo cresceu, para recriar a História".