Título: Governo garante controle de CPI, mas passa apertado na votação
Autor: Ana Paula Scinocca, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Nacional, p. A4

Por uma margem apertada de votos, o governo garantiu ontem os postos de controle da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar denúncias de corrupção nos Correios. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), foi eleito presidente da CPI. O relator dos trabalhos será Osmar Serraglio (PMDB-PR). A presidência foi decidida em votação secreta. Delcídio teve 17 votos, contra 15 para o candidato da oposição, senador César Borges (PFL-BA). A vitória de Delcídio por apenas dois votos de diferença surpreendeu o governo.

Dos 32 integrantes da CPI, 19 integram partidos da base de apoio ao Planalto. Delcídio atribuiu o placar mais apertado que o esperado ao impacto do depoimento do presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), no Conselho de Ética da Câmara. "É difícil saber ao certo o motivo da traição", disse o líder petista. "Acredito que em parte seja devido ao ambiente que a gente está vivendo."

Delcídio usou das prerrogativas de presidente da CPI para indicar Serraglio, um aliado fiel do Planalto, para o posto de relator. Apesar de ser uma indicação do governo, Serraglio prometeu atuar com tranqüilidade e imparcialidade: "Não ao abafa. Não ao circo. Esses serão o mote da nossa atuação."

Ficou acertado que o primeiro depoimento na comissão será do ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho, que aparece numa gravação falando da existência de um esquema montado na estatal com o objetivo de arrecadar fundos para o PTB. Marinho será ouvido pela CPI na terça-feira.

Até o início da noite de ontem 84 requerimentos já tinham sido protocolados na CPI. Os pedidos ainda precisam passar por votação, mas a lista de solicitações inclui a convocação de ministros, entre eles o chefe da Casa Civil, José Dirceu. Também se requisita a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

"Ainda não sei o rito que vou dar. Mas a priori ninguém está excluído de ser chamado, nem ministros", afirmou o relator Serraglio. "A convocação do ministro Dirceu será decidida no plenário da CPI."

Delcídio e Serraglio vão se reunir na manhã de hoje para discutir os rumos da investigação. O mais provável é que, logo depois de interrogar Maurício Marinho, a CPI convoque outros funcionários dos Correios citados nas denúncia de corrupção na estatal.

Roberto Jefferson também será convocado. Para Serraglio, porém, o foco da investigação da CPI deverá ser a acusação de que o petebista comandava a corrupção nos Correios. O relator afirma que a comissão não é o lugar adequado para apurar a denúncia feita por Jefferson de que parlamentares do PL e do PP receberiam mesada de R$ 30 mil para votar sempre de acordo com os interesses do governo.

"Somos a favor a de um CPI exclusiva para investigar o mensalão", disse Serraglio. "Nesta CPI, a suposta mesada será investigada caso existam indícios de que os recursos tenham saído dos Correios."

Depois de desistir de concorrer à presidência da CPI, Delcídio voltou atrás e resolveu entrar na disputa depois de conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto.

"O presidente Lula pediu para eu reconsiderar e disputar a presidência. Não pude recusar. Ele quer que se apure tudo", afirmou o petista.

Apesar da disputa entre governo e oposição, a sessão da CPI que elegeu Delcídio foi tranqüila. O único contratempo foi o fato de o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) ter votado em branco e declarado, logo em seguida, que cometera um equívoco. Com o consentimento dos demais integrantes da CPI, o tucano votou novamente.

A "traição" de dois governistas foi comemorada pelos líderes de oposição. "Nós deveríamos ter obtido 13 votos e o governo, 19", disse o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "Já estamos presenciando um momento de independência da comissão."

O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), afirmou que a oposição vai acompanhar atentamente os trabalhos da CPI, impedindo qualquer tentativa de esvaziar as investigações. "A sociedade vai acompanhar a comissão e quem tiver juízo vai agir conforme quer a opinião pública", previu.