Título: General Félix sabia de corrupção nos Correios
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, sabia, desde abril, da existência de um foco de corrupção nos Correios. Três semanas antes da divulgação do escândalo na mídia, ele recebeu detalhado relatório de inteligência, produzido pela Agência Brasileira de Informações (Abin), dando conta do esquema, relacionando os três principais operadores e informando sobre a existência da fita de vídeo em que um deles, o então chefe de chefe do Departamento de Contratação da estatal, Maurício Marinho, aparece embolsando propina de empresários. Produzido pela equipe do Departamento Operacional da Abin, que se infiltrou nos Correios para investigar o esquema, o relatório é o mesmo enviado ao Departamento de Inteligência e ao diretor-geral da agência, Mauro Marcelo. Uma alta fonte do governo informou que foi dado prazo de dez dias ao então presidente dos Correios, João Henrique Souza, para demitir Marinho e adotar providências, entre elas abrir sindicância e notificar a Polícia Federal . A informação derruba a versão, divulgada pelo governo, de que o Palácio do Planalto foi tomado de surpresa pela denúncia, veiculada pela revista Veja, em 14 de maio.

Ministro dos Transportes no final do governo FHC, Souza é integrante da cota do PMDB no atual governo e ligado ao atual ministro das Comunicações, Eunício de Oliveira, e ao presidente do partido, deputado Michel Temer. O ex-presidente da estatal informou, por meio de sua assessoria, que não vai se manifestar por enquanto.

Ao longo das investigações, a equipe da Abin constatou que o esquema de corrupção nos Correios é muito maior do que o divulgado até agora e só 30% das fraudes estariam mapeadas. Outro veio de corrupção mais importante ainda seria a área de tecnologia da estatal, comandada por Eduardo Medeiros até que o escândalo veio à tona. Também afastado do cargo, Medeiros é ligado ao PT e, conforme levantamento da Abin, estaria em rota de colisão com a área dominada pelo PTB.

Os arapongas constataram que o esquema do PTB era operado na estatal pelo ex-diretor administrativo Antônio Osório Batista e seu assessor especial, Fernando Godoy, além de Marinho. O esquema consistia em cobrar pedágio de empresas interessadas em vender produtos e serviços aos Correios, a fim de que elas integrassem o seleto grupo de beneficiários de licitações viciadas.