Título: Lula faz reunião com 16 ministros e avisa que vai fazer mudanças
Autor: Vera Rosa, Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/06/2005, Nacional, p. A6

A crise política atingiu o presidente Luiz Inácio Lula e é preciso tomar iniciativas rápidas. Foi essa a avaliação feita ontem à tarde, durante reunião de Lula com 16 ministros, no Palácio do Planalto. Ao contrário da versão oficial divulgada no dia anterior, a portas fechadas o governo admitiu que o depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao Conselho de Ética da Câmara, na terça-feira, arranhou - e muito - a imagem do presidente. Na reunião, Lula anunciou que nos próximos dias fará mudanças na equipe. A reforma poderá conter a redução do número de ministérios, secretarias e cargos de confiança. "O deadline para estancar a crise é o fim de semana", contou um ministro ao Estado. É possível que Lula também faça um pronunciamento, mas a decisão ainda depende da análise de pesquisas para medir o tamanho do estrago provocado por Jefferson, depois que ele confirmou a existência de um esquema para pagamento de mesada a deputados, por parte do PT, em troca de apoio ao governo.

Até a reunião do diretório nacional do PT, no sábado, em São Paulo, o presidente vai se debruçar sobre os desdobramentos da crise para definir o modelo e o tamanho da reforma. Lula também voltará a viajar mais para tentar vender uma "agenda positiva". "O governo tem noção de que a crise não é de uma pessoa só", afirmou ontem um colaborador do presidente que participou do encontro no Planalto, após a assinatura da medida provisória de desoneração tributária e estímulo ao investimento. A conclusão do governo é que, ao atacar o chefe da Casa Civil, José Dirceu, Jefferson mirou mesmo em Lula, na tentativa de enfraquecer sua autoridade.

A posição de Dirceu no governo é muito difícil. Mas o presidente ainda tenta encontrar uma saída negociada com ele. Nos bastidores, amigos do ministro dizem que, se Dirceu deixar a Casa Civil e reassumir seu mandato na Câmara - já que é deputado federal licenciado -, será "entregue às feras" da oposição.

"Mesmo sem apresentar provas, os inimigos tentarão cassar o seu mandato. O presidente Lula está convencido de que a tentativa que a oposição faz, apoiada por Jefferson, é a de desestabilizar o governo, enfraquecê-lo, minar sua autoridade, para ampliar suas chances nas eleições de 2006", comentou um ministro que esteve na reunião.

A portas fechadas, o presidente pediu aos auxiliares que fizessem uma avaliação da turbulência. Todos viram a situação como extremamente grave, de instabilidade. A maioria dos ministros petistas defendeu o afastamento do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, até a apuração completa das denúncias. De acordo com os relatos, ninguém falou sobre a saída de Dirceu, que estava presente.

No diagnóstico do governo, ficaram duas impressões do depoimento de Jefferson: ou Lula seria omisso - e não agiria para conter a corrupção - ou completamente desinformado do que se passa. O presidente repetiu que não protegerá ninguém e que todas as investigações serão feitas, mesmo se necessário cortar na própria carne.

Antes da reunião com Lula, os ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, do Planejamento, Paulo Bernardo, e do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, admitiram publicamente a preocupação com a crise.

EXEMPLO

"Nós devemos dar bom exemplo. Se for necessário haver cassações, afastamento e demissões sou plenamente favorável. Acho que o afastamento de dirigentes do PT pode ser uma boa medida para facilitar as investigações e para que a apuração seja mais tranqüila", afirmou Berzoini. Para ele, as acusações de Jefferson provocaram um "clima de apreensão".

Rossetto foi mais enfático: as denúncias de corrupção "criam instabilidade" no País. "Nossa expectativa é de que (as acusações) venham acompanhadas de comprovação que permita todos os esclarecimentos dos fatos, que são graves." Ele avaliou, porém, que da atual instabilidade vai sair uma estabilidade maior, necessária para fortalecer a democracia."

No diagnóstico de Paulo Bernardo, o País está vivendo "um período de agitação política". "Mas não tem como abafar a crise. O governo tem de seguir governando, não pode ficar parado", comentou.